Criei este site em janeiro de 2019 para ser um dos meus lugares de fala enquanto mulher cega, artista, professora, palestrante e ativista dos direitos humanos. Aqui publico diversos textos, principalmente, relatos de experiência, monólogos teatrais, crônicas, palestras, produções científicas e comentários.
Descrição: imagem com fundo amarelo e a frase “resista como uma mulher cega! com letras pretas
Descrição: mulher negra com cabelos lisos e pretos em cima do ombro. Veste uma camiseta preta e usa óculos escuros. Sua bengala está apoiada numa parede branca no seu lado esquerdo
As pessoas com deficiência até o início do século XX eram identificadas socialmente a partir de verdades estereotipadas e conceitos preconcebidos carregados de juízo de valor preconceituosos e violentos que os isolavam da vida social e negavam sua humanidade, ou seja, as pessoas com deficiência, não eram sequer consideradas como pessoas.
Ao longo da história da humanidade, houve mudanças no que se referem a identificação e concepção da deficiência, resultantes sobretudo, de reivindicações das próprias pessoas com deficiência, apoiadas por movimentos sociais de mulheres e contra o racismo, ocorridas a partir do início do século XX.
O Brasil é considerado pela Organização das Nações Unidas e diversas entidades de defesa dos direitos humanos como o país que tem a legislação mais democrática e humana no que se refere aos direitos e proteção das pessoas com deficiência no mundo, por meio da publicação do Estatuto da Pessoa com Deficiência, instituído pela Lei nº. 13. 146/2015.
Para nós, pessoas com deficiência, esta lei representa um avanço por nos identificar pela primeira vez de modo oficial como “pessoas” e nossa deficiência como sendo um adjetivo que nos caracteriza e nos diferencia na sociedade, além de nos afirmar enquanto agentes que atuam diretamente em todos os aspectos da vida social, política, econômica, artística, cultural e etc. Por isso, é chamada de lei brasileira de inclusão, reconhecendo juridicamente, aquilo que movimentos de pessoas com deficiência reivindicavam desde 1962 através do lema “nada sobre nós sem nós”, afirmando que pessoas com deficiência são participantes ativas da sociedade, produtoras de bens e serviços. Este lema foi popularizado mundialmente em 1981 com as discussões do ano internacional das “pessoas deficientes e nos dias de hoje expressa inúmeras reivindicações individuais e coletivas de pessoas com deficiência ao redor do mundo.
Amparados pelo êxtase do paradigma da inclusão desde (do) o início do século XXI, as pessoas com deficiências têm experimentado novos recursos de acessibilidade, tecnologias assistivas, discussões e pensamentos sobre deficiência, acessibilidade e inclusão. Diversos intelectuais, cientistas, legisladores, pesquisadores e segmentos da sociedade afirmam que o período da exclusão vigente na antiguidade ao início do século XX, bem como o período da segregação entre as décadas de 1920 a 1940 e as de integração entre as décadas de 1950 a 1980 passou, porque, agora, vivemos a fantástica época da inclusão! Será?
Será que na prática realmente vencemos as concepções e políticas que nos afastava do convívio familiar e social ao nos colocar em casas de misericórdias, abrigos, salas especiais, que negava nossa humanidade, nossa identidade, nosso gênero e sexualidade?
Minha opinião, enquanto mulher cega é que não. Não vencemos essas políticas excludentes e segregacionistas, ainda, somos obrigados a gritar para a sociedade que somos “gente”, que temos cor, cultura, gênero, religião, partido político e time de futebol! Isto, porque, diariamente são criados estereótipos e conceitos ao nosso respeito que nos generaliza e nos incapacita.
Por outro lado, não há como negar que temos conquistas importantes, como direitos a educação de qualidade, saúde, lazer, participação política e social. Além disso, a legislação brasileira criminaliza, preconceitos e exclusão da pessoa com deficiência.
No entanto, existe uma grande desigualdade de gênero no usufruto desses direitos que podem ser comprovadas por dados oficiais, pesquisas acadêmicas e associações de direitos das pessoas com deficiência no Brasil e no mundo. Além disso, muitas das conquistas de direitos que conseguimos nas últimas décadas estão sofrendo ameaças de extinção pelo atual governo que desde o início da sua gestão se mostrou completamente averso a democracia e aos direitos humanos. Dentre suas principais propostas e medidas tomadas estão: a diminuição do valor do benefício da prestação continuada – BPC, o fim das cotas no mercado de trabalho, mudança nas leis de acessibilidade, fim da isenção de impostos na compra de automóveis, extinção da Secadi – Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão) -, do Ministério da Educação (MEC), fim do Conselho Nacional da Pessoa com Deficiência, fim a aposentadoria por invalidez etc.
No início do ano de 2019, realizei uma pesquisa em sites oficiais do governo brasileiro em busca de dados sobre violência contra mulheres com deficiência para publicar no site Resista como uma mulher cega, um espaço virtual onde escrevo sobre diversas temáticas e exponho situações de violências que vivenciei e vivencio corriqueiramente.
Descobri que, de acordo com o IBGE (2010), cujos dados são considerados pelos movimentos e entidades de defesa dos direitos da pessoa com deficiência como sendo os dados mais confiáveis sobre deficiência no Brasil, que das 45,6 milhões de pessoas (23,9% da população total) que têm algum tipo de deficiência, 25,8 milhões são mulheres (26,5% da população feminina) e 19,8 milhões são homens (21,2% da população masculina). Dessas pessoas as que tem deficiência “severa”, ou seja, que são cegas, surdas, não caminham e com deficiência mental e intelectual são 12,8 milhões de pessoas (6,7% da população total), sendo 7,1 milhões de mulheres (7,3% da população feminina) e 5,7 milhões de homens (6,1% da população masculina).
Assim, as pessoas com deficiência no Brasil são em sua maioria mulheres. O IBGE (2010) mostra ainda que maioria delas moram na zona rural e nas periferias do Nordeste, são negras e pardas, tem baixa escolaridade, estão fora do mercado de trabalho, não tem acesso a serviços básicos como saúde, reabilitação, educação, cultura, arte e lazer e são estas mulheres as que estão em situação de maior vulnerabilidade social, econômica e psicológica, sendo portanto, mais propícias a violência física e sexual.
De acordo com dados do site da ONU Mulheres, as mulheres com deficiência têm sete vezes mais possiblidade de sofrer violência física, estupros individuais e coletivos do que mulheres as sem deficiência. Além disso, os agressores raramente são punidos.
Em 2016, a Associação de Mulheres com Deficiência do Mato Grosso do Sul publicou uma pesquisa sobre violência contra mulher com deficiência no Brasil, na qual mostra que estas mulheres são as maiores vítimas de violência física 68% e sexual 82%.
Em 2018, o atlas da violência mostrou que, de 22.918 casos de estupro, 10,3% são de pessoas com deficiência. Entre os casos de estupro coletivo, 12,2% das vítimas tinham algum tipo de deficiência.
No entanto, esses dados não representam o número (verdadeiro) real de violências e abusos vivenciados pela mulher com deficiência no Brasil, sobretudo, porque mostram apenas os casos que foram denunciados, ou seja, são dados retirados de BOs e do Sistema Único de Saúde.
Minha afirmação justifica-se por diversas razões: a primeira é o fato de que a violência contra mulher com deficiência e sobretudo estupros, ocorrem predominantemente, no âmbito familiar. O segundo motivo é que estas mulheres vivem em situação de isolamento e dependência social, psicológica e financeira de parentes; elas não têm acesso a informação, educação e participação política e social. Não têm esperança de saír do ciclo de violência por não conseguirem apoio de alguma pessoa ou instituição. Uma terceira razão é o medo. Medo de sofrerem ainda mais violências depois da denúncia, medo de serem abandonadas, torturadas e assassinadas.
Existem ainda casos em que as mulheres com deficiência têm total consciência da violência que sofrem, mas, não fazem a denúncia porque não conseguem ter acesso aos órgãos de justiça da região, por falta de acessibilidade comunicacional, social, atitudinal ou por terem dificuldades com mobilidade ou vivem em constante ameaça de morte.
Falo isso com (total) propriedade porque vivenciei essas situações de violências, aproximadamente, quinze anos da minha vida e além disso, conheci e convivi com muitas mulheres com deficiência que viveram violências semelhantes e também piores do que as que sofri. Todas relataram-me que viviam em situação de isolamento social, não tinham autonomia financeira, nem acesso a tecnologias assistivas, a informação e tinham grande dificuldade de mobilidade.
No meu caso, fui vítima de violências ainda na infância, simplesmente, por ser mulher, pobre, negra e com deficiência. Em razão da minha condição humana, as pessoas que me violentavam, tinham plena consciência do que faziam e total confiança de que nunca seriam punidos.
Lembro-me que no início do ciclo de violência que vivi, depois de receber um tapa no rosto, ser xingada, humilhada e espancada por ter comido o biscoito recheado do filho da dona da casa, ainda ouvia: “pare de chorar e agradeça a Deus por eu não botar você na rua para passar fome igual teus irmãos passam no interior”. Essas ameaças me causavam medo e dependência emocional e material. Fizeram-me acreditar que a culpa era minha. Como se justificassem o porquê de eu ser espancada, torturada e estuprada porque eu era retardada, preguiçosa, burra, assanhada etc.
Assim, dia após dias as violências aumentavam, tapas, socos, xingamentos, humilhações, tortura psicológica, assédio moral e sexual e por fim, estupro. No meu caso, sempre tive consciência de que era vítima de violência, mas não sabia onde recorrer, não tinha acesso a informação e não tinha convívio social que possibilitasse a minha comunicação com outras pessoas e instituições que pudessem me ajudar.
Por isso, a única saída foi falar na escola sobre o que passava e apesar de ter conseguido ajuda para sair do ciclo de violência em que (estava) vivia, nunca denunciei nenhuma das pessoas que me violentaram, nem mesmo as que me assediaram e estupraram. Apesar de nunca ter feito denúncias de modo oficial, frequentemente, falo sobre as violências que sofri em palestras, em eventos científicos e nos meios de comunicação de massa. Isso tem contribuído para que outras mulheres com deficiência falem sobre violências que vivem ou viveram e façam denúncias.
Em razão dessa minha experiência de vida que nos dias de hoje, o combate a violência contra mulher com deficiência é minha principal bandeira de luta e o principal debate da campanha Resista como uma mulher cega. Uma campanha que criei em março de 2017, com o objetivo de reivindicar meu lugar de fala em todos os espaços da sociedade brasileira, ao mesmo tempo em que mostro que minha existência é uma resistência que se expressa na minha sobrevivência, no meu discurso e nas minhas práticas sociais em defesa dos direitos e respeito a diversidade humana, na luta por uma sociedade democrática, laica, (tolerante) e inclusiva
Nos dias atuais, a sociedade brasileira e o mundo estão presenciando um momento crítico em que são obrigadas a viverem em isolamento social para se protegerem da pandemia do coronavirus, sendo obrigados a mudarem sua rotina de trabalho, relações familiares e sociais. Diariamente, surgem notícias na mídia de que as pessoas estão adoecendo psicologicamente e emocionalmente, que os casos de violência doméstica aumentaram e etc.
Agora, imagine uma pessoa que vive diariamente com pandemia ou sem pandemia em situação de isolamento. Foi assim que vivi durante as primeiras décadas da minha vida e é assim que milhares de mulheres com deficiência vivem, mergulhadas num ciclo de intensa violência. Isto porque o próprio isolamento social dessas mulheres já é um ato de extrema violência que vem sempre acompanhado de discursos que nos oprime, nos adoece mentalmente e emocionalmente.
Raramente denunciamos o que nos violenta porque raramente temos acessos a informações e recursos acessíveis. Não conseguimos sair de casa em busca de ajuda porque ruas, calçadas e transporte público não tem acessibilidade.
A ausência de acessibilidade, nos violenta e nos mata em silêncio e ninguém é punido por isso. Aliás, como punir se o próprio Estado cria condições para que nós mulheres com deficiência permanecemos em isolamento e invisibilizadas?
O Estado contribui para que continuemos sofrendo violência quando cria campanhas de combate a violência contra a mulher e não nos inclui, não divulga em formato acessível. Quando cria e implementa políticas públicas segregacionistas e excludentes. Quando não investe em pesquisas e formações sobre gênero, diversidade e deficiência. Quando não nos disponibiliza recursos acessíveis para que possamos estudar, trabalhar e ter uma vida autônoma e segura etc.
A sociedade nos mata, destrói nossos projetos e nos incapacita quando cria barreiras que nos impedem viver e participar de modo ativo socialmente, quando nega nossa diferença e nos identifica de modo genérico, como por exemplo, PCDs (Pessoas com Deficiência).
Infelizmente, ainda hoje mulheres com deficiência sofrem violências desde a infância, realizadas historicamente e vistas pela sociedade como algo comum e até benéfico. Um exemplo disso é a prática de famílias de baixa renda, geralmente, do interior de entregar uma menina para uma outra família que tem melhor condição financeira e que mora na cidade. Essa prática ocorre em diversas regiões do país, mas, no Maranhão, além de ser uma pratica histórica de violência principalmente, contra meninas de baixa renda, negra e com deficiência é um hábito cultural que expressa relações sociais extremamente complexas, nas quais os próprios familiares da menina concordam com ela seja explorada de diversas formas em troca de alimentos, um lugar para dormir e ser matriculada numa escola.
Para os pais da menina o fato de ter uma filha morando e estudando na cidade é uma esperança de mudança de vida, pois no futuro ela pode se formar, ter um bom emprego e ajudar seus familiares a sair da pobreza. Isso faz com que sejam extremamente gratos aos que moram na cidade e aceitaram cuidar de sua filha.
Para a família que mora na cidade essa menina é simplesmente uma mão de obra gratuita a ser explorada o máximo possível e de modo contínuo. É o saco de pancada quando alguém da casa está entediado e chateado, é o alvo de apelidos, xingamentos, palavrões e é também, o pedaço de carne que os homens da família violam e abusam sexualmente.
No Maranhão, centenas de mulheres viveram e ainda vivem esta situação. Algumas conseguiram escapar e hoje, muitas delas, são mulheres doentes emocionalmente e psicologicamente, outras ainda esperam ajuda e uma oportunidade para “fugir”.
Por isso é tão importante campanhas de combate a violência inclusivas, órgãos e instituições de justiça acessíveis, transporte público acessível, educação escolar inclusiva e democrática que respeite e valorize a diversidade humana. Que o desenho universal esteja presente em todas as instituições, ruas, praças e calçadas da cidade para que possa garantir o acesso de todas as pessoas com autonomia e segurança, que mulheres com deficiência tenham acesso a informações, tecnologias assistivas e recursos de acessibilidade que permitam sua participação ativa na sociedade, etc.
É necessário que exista um trabalho conjunto entre sociedade civil e o Estado, no qual, resultem na implementação de políticas públicas inclusivas que respeitem e valorizem a diversidade da mulher com deficiência no Brasil e no Estado do Maranhão. Mulheres com deficiência são antes de tudo, mulheres. A deficiência é um adjetivo que faz parte da nossa identidade e nos especifica dentro da diversidade humana.
Acredito, veementemente, que o combate a violência contra mulher com deficiência só é possível com a participação de todas as pessoas com ou sem deficiência, pois, como (falei) enfatizei anteriormente, a maioria das mulheres que está nessa situação não consegue fazer denúncias por falta de acesso a meios de comunicação como um telefone acessível por exemplo, tem dificuldade de mobilidade, não sabem onde buscar ajuda ou tem medo de morte e abandono.
Além disso, existe um outro agravante que consiste na fala da mulher com deficiência. Que muitas das vezes é desconsiderada e posta em dúvida sobre a veracidade do fato. Um exemplo disso, foi uma situação de assédio que vivenciei no início do ano de 2019 dentro de uma instituição de ensino superior público no Maranhão. Fiz a denúncia no momento exato do ocorrido e no momento da denúncia o agressor disse: “você não tem como provar porque você não viu”. Esse caso me revoltou de uma certa maneira que o tornei público, escrevi um texto relatando detalhes e publiquei no meu site (Resista como uma mulher cega). Mas, o agressor ficou impune e em sua fala ficou claro que ele me violentou pelo simples fato de eu ser mulher cega.
Por isso, é necessário que todos e todas assumam compromissos pessoais e políticos com a inclusão, que garantam acessibilidade e proteção a vida das mulheres com deficiência. Isto significa mudanças individuais de pensamento e atitudes preconceituosas e estereotipadas que historicamente colocaram as mulheres com deficiência numa posição de inferioridade em relação a mulheres com outras características identitárias e de condição.
Quero ressaltar que pensar e agir de modo inclusivo não tem a ver com o outro, mas, sim com você. Significa mudanças no seu modo de ser e agir que podem romper com suas crenças individuais e coletivas. Significa você entender que a sociedade é para todos que vivem nela, independente, de serem diferentes de você ou não.
Compreendo que este processo pode ser extremamente difícil e complexo para algumas pessoas, principalmente, porque seu início provoca uma autoavaliação sobre seu modo de ser e requer o rompimento com práticas egoístas, preconceituosas e violentas.
Mas, posso garantir que pensar e agir inclusivo é algo simples, não requer dinheiro, nem esforço físico, vocabulários rebuscados, penitências e ladainhas. Trata-se somente de interações humanas respeitosas. São pessoas diferentes se relacionando socialmente de modo que respeitem a diferença um do outro, na vida econômica, artística, cultural, na política, na ciência, no lazer etc. Assim, posso afirmar que a acessibilidade comunicacional, atitudinal, social é, sobretudo, uma atitude humana inclusiva e não a aplicação de técnicas pré-estabelecidas feitas por profissionais específicos.
No meu caso, qualquer pessoa que enxerga pode me garantir acessibilidade, descrevendo imagens, vídeos, ruas, prédios, objetos etc. Ou podem me auxiliar na mobilidade, na escrita a mão e outras formas. Atitudes como essas além de serem acessíveis são atitudes humanas que muitas das vezes são realizadas em meio a conversas, sorrisos e respeito a minha diferença e também à diferença de outras pessoas com deficiência.
#Descrição: Foto frontal do colo para cima. Sou negra de pele clara, tenho cabelos pretos e lisos que estão presos num coque. Uso óculos escuros preto e uma camiseta preta de gola cortada.
Já faz tempo. Mas, ainda dói como se fosse hoje. Aconteceu a 22 anos atrás, a primeira vez eu tinha apenas seis anos de idade foi logo depois que meu pai me deixou sob os cuidados de alguns parentes.
O dia que aconteceu eu estava dormindo e acordei com ele colocando aquelas mãos nojentas no meu corpo, apertando meus seios e babando minha boca Comecei a chorar e ele apertou meu pescoço forte, enquanto me abusava., dizendo para eu ficar quietinha e ser uma boa menina se não ele me cortava em pedacinhos.,
No dia seguinte estando triste e com dor tive que ficar em silêncio e servir de escrava doméstica do meu agressor, ter que lhe servir café e fazer tudo o que mandava.
Com o tempo os assédios e abusos tornaram-se mais frequentes e um dia logo depois de eu ter completado dez anos meus parentes descobriram que eu estava grávida e fui obrigada a falar dos estupros que sofria dentro de casa.
mas, alguns não acreditaram na minha versão e disseram que a culpa era minha, meu tio só fez o que fez o que fez, porque eu era uma menina cesa,.
Quando o pastor e os irmãos da igreja que eu frequentava ficaram sabendo me chamaram de prostituta e que eu ardeira no inferno
Apesar de tudo meus pais decidiram que eu faria um aborto e de repente surgiu um grupo de cristãos e cidadãos de bem fazendo manifestação contra, essa ideia e me julgando, me condenando ao inferno.
Rápido que todos ficaram sabendo da minha gravidez e uitos nem falavam dos inúmeros estupro que sofri Senti-me humilhada e sozinha.
Hoje com trinta e dois anos ainda acordo de madrugada com pesadelos dos estupros que sofri, do aborto que tive que fazer quando tinha apenas dez anos de idade.
Monólogo: Carta de despedida Personagem: Filha Gênero: Drama Interpretação e criação: Zeneide Cordeiro Texto de improviso: Zeneide Cordeiro Vídeo sem edição, produzido com NVDA, um aplicativo de acessibilidade para pessoas cegas.
descrição #audiodescrição: Zeneide Cordeiro em pé do busto para cima. Ela é negra, tem cabelos pretos e lisos que estão soltos em cima do ombro, tem rosto redondo e lábios. Veste uma camiseta preta. No inicio do vídeo se posiciona frontal a câmera e abre uma carta em seguida baixa a mão com a carta e fala com uma expressão triste com lágrimas nos olhos.
Monólogo: Moradora de rua Personagem: Sol Gênero: drama Criação e Interpretação: Zeneide Cordeiro Texto de improviso: Zeneide Cordeiro Vídeo sem edição, produzido com NVDA, um aplicativo de acessibilidade para pessoas cegas.
Descrição/audiodescrição: atriz Zeneide Cordeiro, sentada no chão com as mãos segurando o joelho direito. Ela negra, tem cabelos pretos e lisos em cima do ombro, rosto redondo, olhos profundos, lábios finos, sobrancelha está pra fazer. Veste uma camiseta grande de mangas desbotada de cor verde e cinza. No início do vídeo fala com o rosto de perfil em seguida vira lentamente para a posição frontal.
Vídeo sem edição. Produzido com NVDA, um aplicativo de acessibilidade para pessoas cegas
Descrição/audiodescrição: mulher negra do busto para cima, seus cabelos estão soltos em cima do ombro e são pretos e lisos. Usa um batom vermelho. Veste uma camiseta sem mangas, verde e decotada. Fala com o rosto frontal ao fundo tem uma parede branca
Vídeo sem edição. Produzido com NVDA, um aplicativo de acessibilidade para pessoas cegas
Descrição/audiodescrição: mulher negra do busto para cima, seus cabelos estão soltos em cima do ombro e são pretos e lisos. Usa um batom vermelho. Veste uma camiseta sem mangas, verde e decotada. Fala com o rosto frontal ao fundo tem uma parede branca
Suponho que vocês devem ter olhado na mídia nesses últimos dias a notícia de que o governo federal revogou a portaria criada em 2016 que obriga as universidades públicas de todo o país a criarem políticas inclusivas em seus cursos de pós-graduação.
Acontece que na prática esta portaria nunca foi implementada na maioria das universidades. Alguns cursos de pós-graduação inseriram pela primeira vez cotas em seus editas em 2019, ou seja, no ano passado, mas, a disponibilização de cotas não significou que pessoas com deficiência, indígenas e negros ingressaram mais nos cursos de pós-graduação nesses dois últimos anos.
Como é o caso das pessoas com deficiência que na maioria dos editais não aparece nenhum candidato para concorrer a seleção e os motivos para isso são vários, o primeiro é que no Brasil o número de pessoas com deficiência com ensino superior completo segundo dados do IBGE não chega nem a 1%.
Segundo é o fato de que a reserva de vaga, não significa em hipótese alguma, a garantia de condições acessíveis e inclusivas para concorrer a todos os processos de seleção, sem contar que na prática todo processo de seleção nunca leva em consideração nenhuma das especifidade que coloca pessoas com deficiência em condições de extrema desigualdade física, psicológica, social e até intelectual em relação a pessoas sem deficiência
O fim das cotas na pós-graduação significa uma intensa retomada a política de extermínio, iniciada desde a colonização.
Além disso, existem milhões de outros fatores que excluem pessoas com deficiência, assim como, indígenas e negros dos cursos de pós-graduação no Brasil.
Quero deixar claro aqui que cotas não é esmola é só uma pequena ação do Estado para inserir, mesmo que de modo excludente, a maioria das pessoas que vivem no Brasil que historicamente foram excluídos da sociedade por diversas razões sociais, étnicas, territoriais e econômicas.
Sou Zeneide Cordeiro, pessoa cega e tenho muito orgulho de dizer que fiz pós-graduação numa universidade pública por meio de cotas.
#audiodescrição#descrição: mulher negra do busto para cima, tem cabelos em cima dos ombros, pretos e lisos. Usa óculos escuro e uma camiseta amarela. Fala com o rosto frontal. Ao fundo e ao seu lado direito esta sua bengala de alumínio encostada numa parede branca.
Imagem com fundo amarelos com a frase resista como uma mulher cega em letras pretas e em negrito
Um texto? Ah! Um texto é só um monte de palavras escritas para não serem esquecidas num papel, algumas vezes, podem emocionar quem ler, Na verdade um texto é só uma combinação de pequenos desenhos feitos com capricho por um ser humano… Agora! Um texto, qualquer texto, seja lá qual for, nas mãos de uma atriz ou ator é Vida que ferve, pulsa e emociona!
#descrição#audiodescrição: mulher negra do busto para cima. Tem cabelos curtos em cima do ombro, pretos e lisos e estão soltos, Usa um óculos de grau vermelho e uma camiseta laranja. Fala com o rosto frontal. Ao fundo tem uma parede branca e do seu lado direito e esquerdo tem um vaso de plantas com folhas verdes.
Tudo o que eu mais queria era que fosse verdade que nós temos o mesmo sangue… que somos todos iguais porque somos filhos de Deus… queria que fosse verdade que ninguém está sozinho… queria que fosse verdade que a justiça tarda mais não falha… queria mais como eu queria acreditar que existe democracia… queria acreditar muito, muito que direitos sociais são para todos que por eu ser mulher, pobre e cega sou livre igual a vocês… que a única coisa que nos diferencia é deficiência… não, não é só isso… a única coisa que sei que verdade é que a culpada da violência que já sofri e sofro não sou eu … não, não sou eu… a culpada é você… você sociedade excludente.
Imagem com fundo e amarelo com a frase resista como uma mulher cega escrita em letras pretas
Toda vez que ouço o que aconteceu com o jovem João Pedro, sinto uma revolta tão grande que minha vontade…
Quando ouço o caso do menino Miguel sinto meus órgãos internos despedaçarem…
Dói e dói tanto porque sei que mortes como as do Miguel vão continuar… mortes assim são comuns em país escravocrata…
O menino Miguel e o jovem João Pedro e uns milhões de vidas negras vivendo em situação de pobreza não tem importância em um país liderados por fascistas…
E as homenagens ao George Floyd? Me emocionam… reconstroem… reaviva a força dos meus antepassados… ferve meu coração… inicia a revolução.
Imagem com fundo amarelo e a frase resista como uma mulher cega, escrita em letras pretas
Você percebeu que nesse tempo todo que estamos de quarentena não se ouve falar na mídia sobre pessoas cegas?
Essa invisibilidade me revolta!
Todo dia aparece um trilhão de dicas para auxiliar as pessoas viver neste tempo de pandemia… ensinam como serem criativas, produtivas… terem cuidados com higiene, com a alimentação, com os filhos, os animais de estimação, mas, para pessoas cegas, nada…
Outra coisa que me deixa chateada são as centenas de sites que são publicizadas para que as pessoas se mantenham informadas e até realizem cursos online, acontece, que ninguém fala se são acessíveis ou não…
Quase todas as noites antes de dormir passo horas fazendo pesquisa na interne em busca de informações atuais e acessíveis e na maioria das vezes não encontro nem dica de autoajuda.
Na verdade, isso me chateia não é de agora, ausência de acessibilidade é uma pandemia antiga no Brasil e o descaso com as pessoas cegas é um problema histórico, assim, como viver em situação de isolamento.
Vivo em isolamento desde que nasci, pelo fato de eu ser cega, socialmente sou invisível.
Mas, esse isolamento social que todo mundo tá, tem me angustiado tanto, mais tanto… que não existem palavras que explique.
De uma hora para outra minha vida se resumiu em três coisas: limpeza da casa, cozinhar e assistir série… Beleza, amo série!
Mais não tá fácil, viver a mesma mesmice todo dia!
Sinto que meu corpo cheira água sanitária e meu hálito a alho! só de tanto eu comer alho para melhorar meu sistema imunológico!
Minhas mãos estão tão grossas que parecem lixa de parede!
Hoje dei-me conta que estava usando uma rudia no pescoço pensando que era um colar…
E não para por aí, terminei de preparar o almoço de hoje as 14 horas sendo que comecei a fazer ontem seis horas da manhã.
Não vejo a hora disso acabar que é para eu matar essa agonia essa saudade avassaladora que sinto do reviver.
Tô com tanta saudade daquelas ruas e ladeiras do centro histórico de São Luís… daqueles múltiplos cheiros de comida… perfumes e suor… daquelas músicas… daqueles sabores e da magnifica…
Ah! Magnifica! Só em lembrar de seu sabor minha boca enche de água!
Relato de uma cega na pandemia, texto e interpretação: Zeneide Cordeiro. Audiodescrição: mulher negra do busto para cima, tem cabelos curtos em cima do ombro, pretos e lisos, usa uma camiseta preta e um brinco argola laranja. Fala com o rosto na posição frontal numa cozinha.Foto de Zeneide Cordeiro do busto para cima, sorridente com o rosto frontal. Ela é uma mulher negra com cabelos pretos e lisos, está com metade dos cabelos presos. Usa uma blusa de renda laranja.
Uma das coisas no mundo que mais odeio é gente falsa… gente falsa é sempre acompanhada de um monte de coisa ruim… são egoístas, interesseiras, orgulhosas e mentirosas. E bota mentirosa nisso viu… mentem que dá até dó. Todas na minha opinião são metidas, abusadas e dissimuladas, quando estão na frente de outras pessoas não fazem isso não fazem aquilo, mas, por trás… Humm. Arrancam a pele de um cristão, matam na unha… O que eu gosto mesmo é de gente desbocada… daquelas bem doida… que fala o que pensa, sorri e chora quando sente vontade, que come até a barriga doer sem medo de engordar que abraça apertado uma pessoa sem nem sequer conhecer ela direito que divide o cafezinho com o desconhecido e quando a vida lhe prega uma peça rir da sua própria tragédia.
Imagem com fundo amarelo e a frase resista como uma mulher cega em letras pretas
Texto e interpretação: Zeneide Cordeiro. (Artista cega maranhense) . Audiodescrição do vídeo: mulher negra do colo para cima, tem cabelo liso e preto que estão presos. Veste uma camiseta preta. Fala com o rosto na posição frontal. Ao fundo há uma parede azul.
Abaixo o Texto completo
Ele chegou de supetão. Atravessou fronteiras, invadiu cidades e casas… Um pesadelo que destruiu sonhos, esperanças, projetos… Por onde passou deixou dor, medo e morte. Mudou trilhas, destruiu vidas… O isolamento derrubou muitas máscaras que escondiam egoísmos, violências e preconceitos exacerbado. que estavam escondidos e trancados dentro de corações e mentes. Com isso, teve gente que se aterrorizou ao se ver, ao se perceber… Muitos mudaram. Tornaram-se mais solidário e gentil. Mas, teve aqueles, aqueles coitados que ficaram horrorizados ao se perceber que a forma que encontraram para sobreviver foi ignorar a realidade. Ah! Esses coitados… Vestiram-se com a máscara da ignorância e seguiram com os olhos vendados o maior vírus o vírus visível existente agora na nossa nação, aquele que tem histórico de atleta e prega na mídia ódio e a intolerância. É triste… muitos partiram e nunca mais terão oportunidade de ver.
Descrição: Mulher negra com cabelos pretos e lisos em cima do ombro. Usa óculos escuros e uma camiseta preta, sua bengala está apoiada numa parede branca do seu lado esquerdo
Lembro que uma das coisas que mais gostava na minha infância era ficar debaixo de uma árvore sozinha e em silêncio para ouvir diversos tipos de sons (vozes, ruídos, canto de pássaros, animais rastejando, o som das folhas das árvores, o som das verduras dos canteiros, dos animais no curral, de objetos, de pessoas e principalmente de me ouvir. Sim, isso mesmo, me ouvir. Ouvir meus batimentos cardíacos, minha pulsação, ouvir os movimentos do meu corpo, ouvir minha voz…
Inicialmente, pode parecer uma tarefa fácil, mas, garanto que não é. Em todo o mundo pouquíssimas pessoas conseguem se ouvir, são incapazes de reconhecer a própria voz e não conseguem ter nenhuma consciência dos movimentos do próprio corpo. Essas pessoas desconhecem completamente que seu corpo fala e que fala a verdade mais pura que pode existir dentro de um ser humano, ou seja, aquela verdade que não é possível falar através das palavras.
Desde criança necessitei ouvir infinidades de sons para aprender andar, falar, comer, conhecer pessoas, coisas, a natureza e principalmente, para me localizar nos espaços. No meu caso, aprender a ouvir sons, foi essencialmente, uma estratégia de sobrevivência, embora, não fosse realizada de modo consciente como faço hoje. Atualmente, tenho a maturidade para poder escolher tipos de sons que quero ouvir e entender, isso acontece quando acredito que tal som pode ampliar meu repertório sonoro e facilitar minha sobrevivência num mundo vidente. Existem outros sons ouço apenas, por um instante, isso se dá somente, quando julgo esse som dispensável no meu dia a dia, sem muita importância.
Meu corpo sempre foi um ponto de referência para meu conhecimento e mobilidade no mundo. Geralmente, a aproximação de uma pessoa falando é o suficiente para eu saber sua altura, peso, características físicas e de personalidade, batimentos cardíacos e pulsações. Irei perceber seus gestos com rapidez para poder me comunicar e me relacionar com esta pessoa num mesmo espaço.
Ah! Não pense, que pelo fato de eu perceber características físicas das pessoas com facilidade significa que as reconhecerei sempre. Digamos que fui dá uma palestra no seu local de trabalho ou de estudo e conheci você alguns minutos antes do início da palestra, conversamos sobre diversos assuntos e até trocamos contatos. Depois de uma ou duas semanas nos encontramos e iniciamos uma conversa, mas, você não se identifica, afinal, você acredita que eu lembro de você, porque, conversamos alguns dias atrás. Sendo assim, não existe motivo para uma nova apresentação, não é? Bom, seu pensamento tem sentido lógico, só que apenas para quem é vidente. Sua obrigação é independentemente do que aconteça quando você chegar próximo de uma pessoa cega diga quem você é. Isso é sobretudo, um recurso de acessibilidade comunicacional, social e atitudinal e ajuda a prevenir diversos contratempos.
No caso do exemplo que acabei de citar, provavelmente e por mais prazeroso que tenha sido nosso primeiro encontro não irei reconhecer você. A explicação para esta situação está relacionada com o ambiente/espaço em que nos conhecemos.
Quando vou ministrar palestra, oficinas, participar de eventos ou viajar, sempre estou atenta para tudo o que acontece ao meu redor. O tempo em que ficarei neste ambiente, irei perceber e conhece inúmeros objetos, características do espaço e uma infinidade de pessoas através da voz e dos movimentos do corpo, só que esta minha percepção é momentânea, acontece apenas quando estou nestes locais, faço isso, simplesmente para ter uma maior autonomia e mobilidade e raramente, irei adquiri conhecimento duradouro.
Portanto, caso eu conheça alguém nesse ambiente, raramente irei reconhecer depois, mas, isso não quer dizer que esquecerei por completo, pois, acredito que cada som é único, e diz respeito a algo específico no mundo.
Para mim, o som mostra a identidade e a essência de tudo é a verdade pura de tudo o que existe no universo. Acredito, que quem percebe os sons, percebe a vida. Perceber os sons, não significa ouvir com a audição, significa sentir a vibração das coisas num determinado espaço para se situar e compreender o mundo.
Os sons são antes de qualquer coisa conhecimento individual puro, adquirido por meio de exercícios de autopercepção sonora realizada sempre no momento presente, exige esforço, rapidez e malicia, isso, porque, os sons nunca se repetem. Duvida disso? Então faça o seguinte: escolha um som para você ouvir hoje, pode ser da chuva, das folhas, de uma rua, etc. Se preferir use um gravador para registrar seu som.
Ouça o mesmo som amanhã, se preferir grave. Depois compare os dois sons. Percebeu a diferença? Digamos que você ouviu o som de uma rua, dois dias seguidos no mesmo horário, mesmo assim, eles são totalmente diferentes, além disso, a sensação que você sentiu ao estar diante desses sons foram diferentes e o modo como você se relacionou com eles também.
O som é como o tempo, nunca se repete, além disso, é único e efêmero.
Descrição da imagem: Minha foto interpretando a personagem Fada Chefe, no espetáculo Deu a louca nos contos de fadas, direção: Tatá Pacheco, produção do Palco Centro de Arte. Estou no centro do palco do teatro Alcione Nazaré em São Luís – MA. Tenho cabelos curtos, pretos e lisos. Uso um vestido verde, asas de fada verde, brincos laranja e seguro na mão direita uma varinha de fada verde com uma estrela amarela na ponta
Descrição da imagem: Minha foto interpretando a personagem Fada Chefe, no espetáculo Deu a louca nos contos de fadas, direção: Tatá Pacheco, produção do Palco Centro de Arte. Estou no centro do palco do teatro Alcione Nazaré em São Luís – MA. Tenho cabelos curtos, pretos e lisos. Uso um vestido verde, asas de fada verde, brincos laranja e seguro na mão direita uma varinha de fada verde com uma estrela amarela na ponta
Vivi durante toda minha infância na roça, diariamente eu e meus irmãos tínhamos uma série de trabalhos para fazer que se iniciavam mais ou menos umas cinco horas, primeiro íamos tirar leite da teta da vaca no curral, depois pegávamos frutas caídas no quintal ou colhíamos diretamente no pé, depois tínhamos que puxar água no poço para tomar banho e finalmente tomávamos café para irmos para a escola. Aliais, foi na escola que descobri que era uma pessoa com deficiência visual, mas, não fazia ideia do que isso significava, pois, nem meus familiares e nem os moradores do povoado que eu morava comentavam nada sobre minha deficiência, até uns sete anos de idade pensei que o mundo era da forma que eu olhava.
Ouvi apenas uma única vez uma vizinha me chamando de doentinha, foi num dia quando meu irmão e um amigo estava apostando uma corrida, cujas regras eram, pegar um porco no chiqueiro, subir no lombo dele e depois puxar o rabo para que ele saísse correndo em direção a cerca, o que chegasse primeiro ganharia a corrida. Quando percebi a brincadeira dos meninos, imediatamente, quis participar, enquanto os meninos me explicavam as regras do jogo ouvi a voz de uma vizinha dizendo “menina sai daí tu não pode brincar disso não, tu não sabe que tu é doentinha”.
Respondi zangada que eu não estava doente e que tinha até tomado remédio de verme naquela semana. Ouvi ela reclamar muito, mas, fingi que não ouvi e continue tentando tirar meu porco de corrida do chiqueiro, até que a vizinha foi onde eu estava, me puxou pelo braço com muita força e me levou para casa, onde contou para meu pai o que eu estava prestes a fazer, convicta de que eu ganharia uma surra de lascar. Meu pai ao ouvir as queixas da vizinha sobre mim, disse: “tô muito ocupado agora para ir assistir corrida de porco, mas, se você não ganhar a corrida dos meninos vai se ver comigo”. A vizinha saiu da porta da minha casa xingando e excomungando eu e meu pai. Fui para minha corrida sossegada.
Logo que subi no lombo do meu porco o danado correu disparado em zig e zag, passando por cima de ripas e galhos e batendo em tronco de árvores, uma verdadeira aventura! Cai e levantei umas dezenas de vezes rapidamente, nesse tempo, ainda não havia conhecido o medo e a insegurança. Nesse dia ganhei três corridas e o prêmio foi os meninos puxarem um balde d’água para meu banho nos finais de tarde durante três dias seguidos.
Aprendi a viver no escuro sem medo, fazendo e brincando de tudo o igual a toda criança da roça, subi em árvores, armei arapucas para pegar lambu, roubei ninhos de periquitos e manga da vizinha, tomei muito banho de igarapé, corri, gritei, chorei, briguei e aos domingos de manhã vestia minha saia branca de pregas, calçava meias de renda para ir à igreja tocar flauta e antes mesmo do culto começar eu já queria que ele terminasse para comer bolinhos de arroz com suco de murici.
Acredito que devido a infância que tive nos dias de hoje costumo esquecer que sou cega, as vezes, só percebo que estou andando sem bengala quando topo em alguém, num objeto ou o pior quando ouço buzinas e barulhos de carros e motos, até ontem, pensei que minha mobilidade estava ruim, porque, não estava percebendo buracos, desníveis no chão e nem aproximação de pessoas e animais, mas, hoje descobri que não é a minha mobilidade que está ruim, é o mundo que está barulhento demais, o chão tem desníveis demais, as ruas e os espaços têm pessoas, coisas, animais, demais.
Por isso, hoje, não aposto mais corridas de porco, não pulo mais cercas para roubar manga, não corro pelas ruas e não ando de bicicleta, primeiro porque, não tenho mais porcos, ruas seguras, cercas e mangueiras, só me restou uma bicicleta de cestinha enferrujada que está mais de dez anos guardada no bicicletário do condomínio que moro. Sem dúvidas o mundo atualmente se tornou mais vidente e, portanto, mais perigoso para pessoas como eu.
O mundo está lotado, entulhado e acelerado que parece que todas as pessoas que vivem nele andam na mesma direção, no mesmo compasso a ponto de não perceberem que a qualquer momento pode vir alguém na direção contrária percebendo as coisas diferente, ouvindo para poder sentir, ver e encontrar sua própria direção no mundo ou melhor para construir um mundo novo. Ah! Não pense que sou uma pessoa que vive no passado. Tenho apenas lembranças e conhecimentos acumulados que contribuíram e contribuem para minha sobrevivência num mundo vidente.
Algum dia você imaginou como uma criança com deficiência visual da roça brinca? Consegues imaginar uma criança com deficiência apostando corrida de porco, andando de jumento, subindo em mangueira, pescando, jogando bola, tirando leite de vaca, alimentando cabras e porcos, plantando legumes, colecionando álbuns de figurinha, pilando arroz, jogando videogame e assistindo televisão? Consegues?
Se você é uma daquelas pessoas que dizem que se ficassem cega morreria, que não consegue viver sem a sua visão, que se faltar energia elétrica na sua casa você não consegue comer e se duvidar nem consegue usar o papel higiênico no local certo, você vive num mundo extremamente limitado, moldado e estereotipado. Você é incapaz de pensar que existe inúmeras formas de ver e de viver, que para algumas pessoas existem diversos mundos infinitos, instáveis e não visíveis e provavelmente, você seja uma das pessoas que topam sem querer, naquelas pessoas que andam em direção contrária.
Ah! Tudo bem! Você topou em alguém mas pediu desculpas não foi? A tua pressa te deixou perceber que mudaste a noção de espaço daquela que anda na direção contrária? Percebestes que um dos olhos dela está na mão e que pode ter sido quebrado? E agora quem realmente está na direção contrária? Afinal, quem é a cega?
Por favor não pense que estou fazendo julgamentos contra os videntes, não tenho a capacidade de julgar algo distante e que não conheço. Mas, me diga o que você ver?
Descrição da imagem: essa foto foi tirada durante a apresentação do espetáculo Deu a louca nos contos de fadas no dia 31 de janeiro de 2020, no teatro Alcione Nazaré, com a direção da Tatá Pacheco e produção do Palco Centro de Arte. Minha personagem é uma fada chefe que é vidente. O figurino é um vestido verde e asas de fada verde, bota marrom e na mão direita seguro uma varinha de cristal.
Descrição da imagem: essa foto foi tirada durante a apresentação do espetáculo Deu a louca nos contos de fadas no dia 31 de janeiro de 2020, no teatro Alcione Nazaré, com a direção da Tatá Pacheco e produção do Palco Centro de Arte. Minha personagem é uma fada psicóloga, uma personagem cega. O figurino é uma blusa preta sem manga, uma saia xadrez vermelho e preto, bota marrom, asas vermelhas e uma coroa de flores vermelhas. Estou no centro do palco segurando uma bengala de alumino com a mão direita, do meu lado direito tem um banquinho amarelo.
Este é o quinto post da série “Metodologia cega”, meu objetivo nesta série foi relatar experiências que vivenciei e mostrar algumas “estratégias de resistência que criei para permanecer e concluir meu curso de mestrado em Políticas Públicas, após ter perdido a visão total.
Penso que estes relatos podem estimular pessoas que estão passando por situações que precisam readaptar seu estilo de vida para continuarem vivendo de forma “plena” na sociedade, com pelo menos um mínimo de autonomia e segurança.
Enfatizo aqui que todo meu processo metodológico de estudo e pesquisa ocorreram a partir da compreensão de pontos de vista diversos, incluindo, minhas experiências e compreensões empírica, enquanto pessoa com deficiência visual, as quais, construí socialmente e historicamente e são constituídas por elementos repletos de fantasia, crenças e misticismo, que conduziram e conduzem minha vida nos dias de hoje.
Minha cegueira possibilitou meu ingresso em um mundo novo que para viver é preciso eu estar em constante processo de construção e reconstrução de formas, técnicas, recursos, crenças, rompimento de barreiras, estereótipos, medos, angústias, dor, alegrias, espaços, pessoas e seres humanos e não humanos.
Hoje tenho um sonho e um só desejo, que é que todas as pessoas cegas possam construir e reconstruir suas trilhas de conhecimento nos meandros da “escuridão”, que deixem o mundo “vidente” assombrado diante da perspectiva de um novo mundo, um mundo inclusivo e sem julgamentos de aparência.
Quando você quiser e puder leia os post 1 – 2 – 3 e 4 da série metodologia cega!
Este é o quarto post sobre “metodologia cega”, onde irei relatar o processo de construção de uma metodologia inclusiva.
Como afirmei no post anterior, quando fiquei cega direcionei meu foco para coisas simples como aprender tarefas manuais cotidianas (cozinhar, cuidar de uma horta, etc.), a segunda foi elaborar minha dissertação.
Dediquei-me em pesquisar formas que facilitassem a escrita da minha pesquisa, mas não encontrei nenhuma referência que indicasse técnicas ou metodologias de pesquisa específicas para serem utilizadas por pesquisadores cegos. Enfrentei um dilema, sobre como fazer minha dissertação sem perder o rigor científico e ao mesmo tempo sem ter condições práticas totalmente acessíveis de leitura e escrita.
Os leitores de tela não reconhecem imagens, alguns formatos de documentos, gráficos, palavras e, além disso, tinha muitas dificuldades para formatar um documento, inserir citações, notas, referências, tabelas, corrigir palavras e localizar algum conteúdo no texto. Com isso, percebi que necessitava encontrar minha própria forma de leitura e escrita.
Lembrei-me que fui alfabetizada de forma oral através de meus familiares. Foi somente, depois de alguns anos que ingressei numa escola multiseriada em Maranhãozinho. Nessa época, em razão da minha pouca visão, não conseguia relacionar os sons das palavras com sua forma escrita, por isso, demorei aprender a escrever.
Foram essas lembranças e experiências que acumulei ao longo da minha vida, que facilitaram meu processo de alfabetização e conhecimento do mundo, que tomei como a principal referência para desenvolver uma metodologia que facilitasse a realização da minha pesquisa.
Utilizei formas que desenvolvi para me localizar nos espaços, mobilidade, memorização de inúmeros sons, formas, espaços, gostos, cheiros e sensações, etc. Busquei experimentar inúmeros recursos de acessibilidade para pessoas cegas: aplicativos leitores de tela e gravadores de som.
No decorrer da minha pesquisa, e desde o processo de construção do objeto, estive em constante processo de “construção e reconstrução” (BOURDIEU, CHAMBOREDON, 1999, p. 25) de técnicas e utilização de recursos. Tomei como perspectiva teórica-metodológica a noção de “objetivação participante”, desenvolvida por Bourdieu. Utilizei diversos recursos tecnológicos simultaneamente (gravadores, computadores, celulares, aplicativos, etc).
Por diversas razões (tempo escasso, limitações da deficiência visual e financeiras) não fiz pesquisa de campo diretamente com os Awá e nem com moradores que participaram de levas migratórias para o território desse povo.
Entretanto, fiz diversas entrevistas por meio de telefone, E-mails e redes sociais. Os relatos que ouvi através de recursos tecnológicos e redes sociais foram extremamente importante, sendo fontes de informação e conhecimento a partir de experiências pessoais de vida individual e coletiva, nas quais eu estava inserida em diversos momentos.
Com isso revivi emoções, sensações, medos, histórias e curiosidades da minha infância, que provocavam lembranças de informações sobre meu objeto de estudo. Em alguns momentos, sentia-me em baixo das mangueiras ouvindo o som das folhas balançadas pelo vento, ouvia as gaitadas demoradas, minhas e dos meus irmãos, enquanto corríamos nos caminhos estreitos e lameados das Vinte, o revoar das curicas, o canto dos periquitos no beiral do nosso alpendre, o cheiro das ervas usadas pela minha avó durante a preparação de banhos. Sentia a energia de muitos e muitos benzimentos que recebi, o cheiro da minha rede, do arroz pilado, do cuscuz feito no prato, dos sucos de murici…
O momento da escrita da dissertação foi como se eu estivesse conectada com o mundo espiritual, no qual minhas mãos passaram a ser guiadas por seres celestes e, minha ausência de visão não teve mais importância.
Meu passado e o meu presente se encontraram e os conhecimentos que adquiri a partir de crenças, misticismo, relações sociais e com a natureza desde minha infância, foram o ponto de partida para compreender conhecimentos científicos pautados em teorias e técnicas metodológicas.
Quando estava realizando a pesquisa os Awá e o mundo dos Karaiw compreendi minha deficiência visual como um elemento definidor da minha identidade. Essa compreensão foi essencial para meus posicionamentos políticos, sociais e intelectuais na universidade. Definiu e traçou o percurso da minha investigação científica e do meu “lugar de fala” no Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas- PPGPP
Recentemente percebi que minha vida foi e é direcionada por uma série de elementos e a minha deficiência é apenas um deles. Além, disso, entendo que minha deficiência não é a única responsável por definir minha vida e, portanto, minha identidade, embora, socialmente, seja minha deficiência um elemento de destaque, pelo qual me identifico, individualmente.
Assim, a elaboração da minha dissertação se deu a partir de uma metodologia construída a partir de fundamentos teóricos metodológicos, mas, sobretudo, a partir de experiências e conhecimentos que adquiri enquanto pessoa cega.
Considero este processo como uma metodologia cega, por ter sido criada e executada por uma pesquisadora cega e por ser possível utilizá-la com o uso de recursos e estratégias desenvolvidas e utilizadas por pessoas cegas no seu cotidiano.
Neste processo, o visível não tem lugar, os pensamentos, ideias, crenças, conceitos, práticas e estereótipos pré-construídos e historicamente definidos são postos em questão continuadamente. É necessário constante experimentação e uma invenção permanente que se adeque a condição do agente que pesquisa para só assim, realizar a pesquisa.
A elaboração de toda minha pesquisa ocorreu simultaneamente, isto é, não fiz por partes ou capítulos. Depois que todo o conteúdo foi escrito, organizei com o auxílio da minha orientadora as partes, elementos pré-textuais, pós-textuais. Na minha cegueira, pude tornar visíveis fragmentos dos contatos dos Awá com os brasileiros.
Descrição da imagem: Convite para a defesa pública da dissertação “Os Awá e o mundo dos Karaí”, com fundo amarelo e letras pretas, no centro do convite tem quatro quadros com imagens do povo Awá. Em baixo tem informações sobre a data 25. 02. 2019, hora 14:30, Local: Programa de pós-graduação em Políticas Públicas – UFMA, Banca examinadora: Drª. Elizabeth Maria Beserra Coelho (orientadora), Drª. Mônica Ribeiro Moraes de Almeida, Drº. Rodrigo Theophilo Folhes.
Referências bibliográficas
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BOURDIEU, Pierre. Coisas ditas. São Paulo. Brasiliense, 2004.
BOURDIEU, Pierre.Meditações Pascalianas. Rio de Janeiro. Bertand, 2007.
BOURDIEU, Pierre. PASSERON, Jean-Claude. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. Covilhã, Lusofia, 2009.
CORDEIRO, Zeneide Pereira. Os awá e o mundo dos karaiw. (Dissertação de mestrado). Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas – UFMA, São Luís, 2019.
CUNHA, Olívia Maria Gomes da. Tempo imperfeito: uma etnografia do arquivo. MANA 10(2):287-322, 2004.
GOMES, Mércio Pereira. Os índios e o Brasil: passado, presente e futuro. São Paulo: Contexto, 2012.
HERNANDO, Almudena et al. História recente e situação atual dos Awá-Guajá. In. HERNANDO, Almudena; COELHO, M. E. B. (Org.). Estudos sobre os Awá caçadores-coletores em transição. EDUFMA. São Luís, 2013.
MONSERRAT, Ruth Maria Fonini. Línguas indígenas no Brasil contemporâneo. In: GRUPIONE, Luís Donisete Benzi (org.). Índios no Brasil. Brasília, ministério da Educação e Desporto, 1994.
MORENO, Alejandro. Superar a exclusão, conquistar a equidade: reformas, políticas e capacidades no âmbito social. CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales. Buenos Aires, 2005.
OLIVEIRA, João Pacheco de. Uma etnologia dos “índios misturados”? Situação colonial, territorialização e fluxos culturais. MANA 4(1):47-77, 1998.
Este é o terceiro post da série “metodologia cega”, no qual irei falar sobre o início de como desenvolvi uma forma própria de estudo e pesquisa durante meu curso de mestrado e também, como surgiu a ideia do “resista como uma mulher cega”.
Nas vésperas do dia do índio do ano de 2018, perdi meu resquício visual e fiquei cega total. Com isso, precisei criar novas formas de reorganização em âmbito familiar, social e acadêmico, de modo que eu pudesse continuar executando minhas atividades no mestrado.
A cegueira me obrigou a aprender, a ver e a viver no mundo de uma forma diferente. Tudo o que havia aprendido antes desse momento, passou a não ter valor algum. No meu novo mundo não havia vida, formas, cores e movimento. Existia apenas um som estridente que me fazia pensar que estava no vácuo, perdida. Em razão disso, necessitei fazer reabilitação para reaprender coisas simples do dia a dia como: andar, comer, falar, vestir e ser alfabetizada novamente. Passei a frequentar a escola de cegos do Maranhão e, na minha convivência com pessoas cegas e com outros tipos de deficiência, aprendi rapidamente andar com bengala, a falar localizando pessoas pela voz, a ter noção espacial e andar com acompanhante. Mas, o que “revolucionou” minha vida foi quando conheci uma infinidade de aplicativos que pessoas cegas podem utilizar para ler, escrever, pesquisar, utilizar redes sociais, auxiliar na mobilidade, reconhecer cores, formas e localizações.
Primeiramente, aprendi a usar o celular com o leitor de tela. Através desse recurso, pesquisei na internet técnicas de leitura e escrita de trabalhos acadêmicos para pessoas cegas e encontrei muitas informações que me facilitaram a utilizar leitores de telas no computador. Instalei diversos aplicativos no meu celular e no meu computador e, em poucas semanas havia aprendido a digitar e ler cerca de dez vezes mais rápido do que quando tinha baixa visão.
Paradoxalmente, quando fiquei cega total, em alguns momentos as inúmeras situações de exclusão que vivenciei se intensificaram, ao mesmo tempo em que consegui criar diversas estratégias de resistência para fugir da exclusão social na sala de aula e vencer o isolamento social. Nesse período, a palavra “resistir” para existir, para sobreviver, ser humana, ser mulher e ser feliz, tornou o meu segundo nome.
Nesse período, numa disciplina foi decidido que o trabalho de conclusão seria um seminário, que deveria ser apresentado em equipe de pelo menos duas pessoas. No momento em que ocorreu a organização dos grupos, não me esforcei para integrar nenhum, devido a uma situação extremamente desagradável que havia vivenciado em outra disciplina, na qual, ouvi algumas estudantes falando que temiam ficar comigo na mesma equipe porque, minha participação poderia prejudicar a nota de todas.
Decidi então pesquisar as referências, para que eu tivesse tempo de pedir auxílio, caso não encontrasse em formato acessível. O objetivo principal era eu encontrar referência acessível para estudar e apresentar um seminário sozinha. Um dia, uma estudante do doutorado falou-me que estava sem equipe e respondi que também estava, mas que iria fazer meu trabalho sozinha. Imediatamente, ela falou: “pois, iremos fazer o seminário juntas”. Depois que apresentamos o seminário ela me convidou para tomar um café.
Na semana seguinte, passei a ser “percebida” por alguns colegas. Alguns deles, motivados por não ficarem na fila do restaurante universitário se estivessem em minha companhia, convidaram-me para almoçar. Outras pessoas, também visando agilizar o atendimento, pediam para eu pegar livros emprestados na biblioteca. Recebi outras demandas desse tipo e acatei-as, numa estratégia de estabelecer uma relação de trocas. Paguei contas e comprei ingressos, ações que me possibilitaram companhias para além da universidade.
Em razão dessas minhas “gentilezas”, em poucos meses acumulei um grupo considerável de pessoas ao meu lado, que por vezes me auxiliavam na mobilidade, nas leituras dos textos. Além disso, scaneavam textos para mim, faziam audiodescrição de imagens e vídeos e ajudavam-me a assinar meu nome nas cadernetas de frequência, conduzindo minha mão ao local exato onde deveria firmar minha assinatura. Com isso, meu esposo passou somente a me levar e buscar na universidade, deixando de me acompanhar diariamente, do início ao fim das aulas, como fazia anteriormente, quando ingressei no curso.
No terceiro semestre do curso já estava reabilitada, embora, tivesse dificuldades de locomoção. Nesse período, fiquei mais próxima do meu esposo e da minha orientadora. Essas relações me proporcionaram segurança emocional para que eu pudesse retornar para as aulas e dar continuidade a minha pesquisa. Tornou-se frequente no meu dia a dia responder inúmeras perguntas, que nem sempre eram gentis, de pessoas na universidade e na sociedade em geral sobre minha vida acadêmica e pessoal. Recebi diversos convites para participar de mesas redondas, palestras e ventos na universidade escolas, movimentos sociais, associações de bairro, partidos políticos, instituições públicas e privadas para falar sobre a minha história de vida e sobre minha pesquisa.
Nesse momento, concentrei-me, principalmente, nas atividades do curso e na elaboração da minha dissertação e, também, em questões relacionadas a minha “nova condição”. Em alguns momentos, pensei que deixar de ter baixa visão e ser cega total, foi como se eu estivesse ganhado “super-poderes”, porque passei a decorar informações como citações e referências muito rapidamente, passei ouvir e reconhecer sons a longas distâncias, o que facilitou minha mobilidade e compreensão de espaços, passei a ler e escrever mais rápido. Deixei de perceber situações de exclusão que ocorriam comigo porque meu foco era outro.
Nesse período criei uma espécie de campanha com o título: Resista como uma mulher cega! Com o objetivo de criar de divulgar questões relacionadas a invisibilidade da mulher cega no meio acadêmico, questões de gênero e direitos humanos. Atualmente, criei um site com o mesmo nome da campanha, nele público textos sobre diferentes temas: povos indígenas, democracia, política, gênero, etc.
Descrição da imagem: Fundo amarelo e letras pretas com a frase: Resista como uma mulher cega!
Este é o segundo post da série sobre “uma proposta metodológica inclusiva” para estudo, pesquisa e ensino de pessoas cegas, com deficiência e sem deficiência. O primeiro foi o post “trilhas e meandros da luz na escuridão”.
Percebo, nos dias de hoje, que muitas das pessoas que contribuíram para minha exclusão no mestrado a partir de crenças pré-construída de modo preconceituoso, egoísta e discriminatório, continuam a pôr em prática as mesmas atitudes. Atitudes essas, que são reatualizadas com novas concepções expressas em frases como: “você é cega mais é inteligente”. “Você nem parece ter deficiência, tem certeza que é cega mesma”? “É incrível o que você faz, é claro que você é uma exceção”!
Frases desse tipo são corriqueiras no meu cotidiano e, a meu ver, mostram preconceitos construídos historicamente, os quais, as pessoas evitam tornar públicos de modo explícito, mas que sempre o fazem camuflados com expressões de dor e sentimentalismos exacerbados. São efetivados por meio de crenças pré-construídas que podem ocasionar atitudes de intolerância e violência física e simbólica com pessoas ou grupos de pessoas numa determinada sociedade.
Moreno (2005) afirma que a exclusão é um conceito
que tenta definir teoricamente a realidade social que enfrentamos na prática do
viver cotidiano e isto, supõe uma aceitação evidente de uma divisão entre dois
setores muito distintos de uma sociedade.
No meu caso, a experiência de exclusão que
vivenciei na pós-graduação não foi novidade alguma, pois, vivo situações
semelhantes diariamente, desde a infância. Muitas ocorrem em decorrência de ser
oriunda de uma região com precária situação econômica, pela falta de estrutura
familiar, pela ausência de educação escola. Outras situações de exclusão que
vivenciei ocorreram em razão do meu gênero, da cor e da minha deficiência.
Portanto, desde minha infância percebo que sempre
vivi num mundo social dividido. Mesmo quando participo de um determinado grupo,
como por exemplo, uma turma de pós-graduação numa universidade federal. “A
exclusão por si mesma não pressupõe necessariamente desigualdade, mas somente
quando, como em nosso caso, a exclusão se exerce sobre condições de vida humana”
(MORENO, 2005, p. 96).
Em razão de inúmeras atitudes de exclusão, expressas sobretudo pela ausência de acessibilidade atitudinal e comunicacional, estudei dois semestres isolada socialmente e sem acesso a maior parte dos conteúdos trabalhados em sala de aula. A maioria das referências não estavam disponíveis em formato acessível. Os slides, filmes e vídeos quando eram projetados em sala não tinham audiodescrição.
Durante uma dessas aulas sem nenhuma acessibilidade atitudinal, comunicacional e social, na qual eu era simplesmente invisível aos olhos dos que enxergam, falei em tom irônico e enfático: “só resistindo como uma mulher cega” para sobreviver aqui! Percebi que esta frase “chocou” algumas pessoas e, principalmente, a professora. Após esse episódio passei falar com mais frequência. No segundo semestre de 2018, quase às vésperas das eleições presidenciais, quando estavam sendo organizadas diversas mobilizações políticas e sociais em São Luís, fiz duas camisetas com a frase: resista como uma mulher cega! Passei vestir na universidade, durante diversas mobilizações, apresentações de trabalhos e eventos dos quais participei nessa época. No próximo post falarei sobre o “nascimento” do resista como uma mulher cega.
Descrição da imagem : imagem com fundo preto e letras brancas com a frase: cuidado! Você pode ficar cego de tanto ver!
Referência bibliográfica
MORENO, Alejandro. Superar a exclusão, conquistar a equidade: reformas, políticas e capacidades no âmbito social. CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales. Buenos Aires, 2005.
Este será o primeiro de cinco post que falarei sobre “uma proposta metodológica inclusiva” que desenvolvi ao longo de algumas trilhas da minha trajetória acadêmica e profissional.
Quando ingressei no Programa de Pós-Graduação em
Políticas Públicas na UFMA, estava num processo de perda de visão agressivo
e dolorido. Sentia fortes dores e inflamações nos olhos, enxaqueca, dores de
ouvido e a minha mobilidade estava extremamente comprometida.
Diariamente, meu esposo me levava para assistir aula. Chegávamos cedo, para que ele pudesse me ensinar andar sozinha no prédio em que estudava. O objetivo disso, era melhorar minha mobilidade no curso e na universidade. Durante as aulas, minhas dificuldades eram imensas, não conseguia acompanhar as leituras e nem as discussões em sala. Os recursos que facilitavam meus estudos, que eu tinha em casa, eram insuficientes. Em razão disso, busquei outras estratégias. Primeiramente, pedi um vídeo ampliador na coordenação do curso, o que foi me concedido cerca de dois meses depois. Meu direito de uso desse equipamento era somente nas dependências do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas.
Assim, eu tinha apenas um turno para usar o vídeo ampliador, porque, em outro turno eu estava em sala de aula. O resultado é que eu nunca conseguia fazer todas as leituras necessárias. Pedi aos professores e professoras que disponibilizassem a ementa da disciplina com antecedência, mas, muitos esqueciam e não me enviavam. Passei a pedir na coordenação mas, na maioria das vezes não me enviavam, ou enviavam um documento em formato de imagem, no qual eu não conseguia ler. Comecei a gravar as aulas, mas, nessa época, a sensibilidade da minha audição prejudicava o entendimento de alguns sons, principalmente, da voz humana.
Percebi que todas as estratégias que havia criado para facilitar meus estudos e garantir minha permanência no curso fracassaram ao ponto de pensar que a única solução racional e viável seria o trancamento ou abandono. Porém, resisti buscando permanecer no curso.
Percebi que seria necessário criar estratégias que me adequassem ao jogo social realizado na universidade. Estava explícito que eu era a figura “aversa” em relação aos agentes que estavam inseridos nesse jogo. Meu processo de produção científica era extremamente diferente dos deles. Além disso, existiam enormes barreiras físicas e emocionais pelo fato de eu não enxergar. O fato de procurar estratégias para me inserir nesse jogo, não significa que eu decidi seguir todas as regras ou participar das mesmas disputas que os demais participantes, pois, no meu caso, isto seria impossível, porque, “naturalmente”, eu já estava numa condição de extrema desigualdade de condição. Porém, procurei em alguns momentos fazer o jogo duplo, agindo de acordo com meus interesses ao mesmo tempo que mantinha as aparências de obediência às regras. Bourdieu (2004, p. 81) chama “jogo duplo”, a estratégia que permite produzir uma infinidade de lances possibilitados pelo jogo.
Decidi falar sobre minhas limitações e sobre minha deficiência. No momento em que falava, algumas pessoas demonstravam compaixão e me auxiliavam principalmente, na mobilidade, só que este auxílio ocorria somente no momento em que havia terminado de falar das minhas limitações. Diariamente, ouvia falas e vivenciava atitudes que intensificavam minha exclusão no curso e na própria universidade.
Posteriormente, várias pessoas que estudaram comigo no mestrado me falaram que no decorrer do curso evitaram se aproximar de mim com medo de se tornarem minhas guias. Outras me relataram que não sabiam como falar comigo, porque tinham medo e pena de mim, imaginavam que no meu dia a dia eu dependeria totalmente de uma pessoa vidente, etc.
No post seguinte falarei sobre exclusão no ambiente acadêmico e como consegui agir para vencer inúmeras barreiras atitudinais, sociais e comunicacionais.
REFERÊNCIAS
BOURDIEU,
Pierre. O Poder Simbólico. Lisboa:
Difel, 1989.
BOURDIEU,
Pierre. Coisas ditas. São Paulo.
Brasiliense, 2004.
BOURDIEU, Pierre.Meditações Pascalianas. Rio de Janeiro. Bertand, 2007.
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Em tempos de retrocessos da política
indigenista, ambiental e dos direitos humanos no Brasil as palavras de Kopenawa
presentes no livro a queda do céu: palavras de um xamã yanomami são um alerta
para nós refletirmos sobre aspectos políticos, econômicos e sociais presentes
nos Estados capitalistas modernos em que as forças de produção são
monopolizadas por grandes empresas, ao mesmo tempo que inúmeros
grupos de pessoas e povos se tornam cada vez mais dependentes economicamente.
Kopenawa nos faz
refletir que nos dias atuais as mercadorias estão conduzindo todas as relações
humanas. O “homem branco” precisa entender que a terra não é uma colônia de
exploração, a terra não é propriedade particular. A terra é um presente que foi
dado para usufruto de todos; seres humanos, seres “celestiais”, seres e
elementos da natureza.
O “povo da
mercadoria” acredita que a natureza, as relações sociais e o conhecimento são
“coisas” que existem naturalmente e que lhes foi dado o direito de posse “naturalmente”
para que pudessem destruir nações e culturas, para que delineassem novas
fronteiras e impusessem sistemas e leis que lhes garantissem a continuidade da
sua dominação.
Os yanomami desde
os primeiros contatos com os não indígenas entre as décadas de 1910 a 1940,
mediados pelo Serviço de Proteção ao Índio – SPI tem sofrido inúmeros tipos de violências:
mortes por epidemias e assassinatos, executados por extrativistas, por soldados
da Comissão de Limites para demarcar fronteiras brasileiras, por garimpeiros, por
brasileiros que participavam de projetos de colonização agrícola e por
missionários.
Essa violência
vivenciada pelos yanomami intensou-se desde o período da ditadura militar
quando o governo brasileiro criou e executou diversos projetos de
desenvolvimento econômico em territórios ocupados tradicionalmente por povos
indígenas em todas as regiões do Brasil.
De modo geral, o
contato entre os yanomami e os não indígenas provocou uma série de epidemias e
desastres ecológico e isto afetou diretamente o mundo espiritual que depende da
floresta para sobreviver.
Na cultura yanomami
os xapiri – espíritos são seres puros que habitam o plano imaterial que se
situa na floresta, no céu, no subterrâneo, quando querem ficar perto dos
humanos, caminham pela floresta por um caminho espelhado que eles mesmos
projetam e criam, nunca tocando o chão. Eles se comunicam com o xamã quando
está em estado de fantasma após beber o pó da yãkoana, os espíritos os ensinam,
pelo canto e dança, a caçar, curar doenças, a celebrar a vida.
Atualmente, devido
ao aumento do desmatamento a vida dos yanomami está ameaçada por doenças. Para
esse povo as doenças são causadas quando um espírito yarori ataca. São os
xapiri que intervém e curam. Mas, hoje com as epidemias dos brancos os xapiri pouco
podem fazer para ajudar, porque não conhecem essas doenças. A doença física
resultante do contato com o não indígena significa doença no plano espiritual
dos xapiri.
Kopenawa fala que
quando os garimpeiros começaram a invadir a floresta os xamãs tentaram rechaçar
suas fumaças de epidemia. Infelizmente, foram os seres canibais da epidemia
que, enfurecidos por seus ataques, acabaram por devorar os xamãs. É por isso
que os velhos xamãs, antes tão numerosos, são hoje tão raros.
Hoje os xapiri
maléficos dos xamãs mortos tornam-se cada vez mais numerosos, furiosos por ver
as casas dos espíritos de seus pais destruídas pela ignorância dos brancos. É
por isso que os xapiri maléficos irados derrubam árvores em cima dos
garimpeiros, enchem as águas dos rios para afogá-los e provocam deslizamentos
de terra para sepultá-los. Inclusive derrubam seus aviões na floresta. Se o
povo da mercadoria continuar explorando a natureza irão matar os poucos xamãs
que restam.
Sem xamãs, a
floresta é frágil e não consegue ficar de pé sozinha. As águas do mundo
subterrâneo amolecem seu solo e sempre ameaçam irromper e rasgá-lo. Seu centro,
firmado pelo peso das montanhas, é estável. Mas suas bordas não param de
balançar com estrondo no vazio, sacudidas por grandes vendavais. (KOPENAWA,;
ALBERT, 2005).
Maxitari, o ser da
terra, Ruëri, o do tempo encoberto, e Titiri, o da noite, ficarão furiosos.
Chorarão a morte dos xamãs e a floresta vai virar outra. O céu ficará coberto
de nuvens escuras e não haverá mais dia. Choverá sem parar. Um vento de furacão
vai começar a soprar sem jamais parar. Não vai mais haver silêncio na mata. A
voz furiosa dos trovões ressoará nela sem trégua, enquanto os seres dos raios
pousarão seus pés na terra a todo momento. Depois, o solo vai se rasgar aos
poucos, e todas as árvores vão cair umas sobre as outras. (KOPENAWA,; ALBERT,
2005).
Nas cidades, os
edifícios e os aviões também vão cair. Isso já aconteceu, mas os brancos nunca
se perguntam por quê. Só querem saber de continuar escavando a terra em busca
de minérios, até um dia encontrarem Xiwãripo, o ser do caos! Se conseguirem, aí
não vai haver mais nenhum xamã para rechaçar os seres da noite. A mata vai
ficar escura e fria, para sempre. (KOPENAWA,; ALBERT, 2005, p. 494).
Quando todos xamãs
morrerem o homem branco irá ficar em sua terra devastada e invadida por
multidões de seres maléficos que os devorarão. Por mais que os homens brancos
sejam muitos e sabidos, seus médicos não poderão fazer nada. (KOPENAWA; ALBERT,
2005). Todos serão destruídos.
No entanto, enquanto existirem xamãs vivos, eles conseguirão conter a queda do céu. Se morrerem todos, ele vai desabar sem que nada possa ser feito.
Descrição da imagem: No panfleto centralizado à direita tem a capa do livro, capa preta, com letras garrafais vermelha escrito: “A queda do céu – palavras de um xamã yanomami”. Na parte inferior da capa do livro o rosto de um indígena pintado com traços de jenipapo. Grupo de estudos em memória, artes e etnicidade convida: Debate da obra “a queda do céu”, de David kopenawa e Bruce Albert. Participação do Dr Rodrigo folhes e da mestre Zeneide Cordeiro. Mediação mestre João Damasceno. Dia 8 de novembro das 14 horas às 17 horas, na rua doutor Humberto de Campos, Centro, Casarão Azul, número 174, próximo à praça João Lisboa. Apoio: Centro de Pesquisa em História Natural é Arqueologia do Maranhão; Programa de Pós-graduação em Cultura e Sociedade; Universidade Federal do Maranhão.
REFERÊNCIA
KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras. 2015.
Diariamente e desde quando eu era uma criança
que adorava correr entre as árvores, de banhar no igarapé que passava no fundo
da minha casa, que conversava com bem-te-vi e minha sobremesa preferida era a
manga de fiapo roubada da vizinha… ouvia de meus familiares, de conhecidos e
desconhecidos que sou “diferente”… afinal o que é ser diferente?
Na minha infância acreditei que ser diferente
era um “dom”, todos se admiravam que menina sabida… nem parece que é tão
diferente das outras… desconhecendo o era exclusão, cresci feliz e sem medo
como a maioria das crianças da roça, correndo no meio de plantações e parando
rapidinho para tirar gravetos que entravam em meus pés, me ferindo com ponta de
anzol durante uma pescaria ruim, batendo a testa num pé de murici ou de caju…
Foi assim, vivendo livremente na roça, que
aprendi a ter autonomia e mobilidade, que aprendi a reconhecer uma infinidade
de sons a longa distância, que aprendi a criar mapas mentais a conhecer pessoas
somente pelo movimento do corpo, que aprendi a sentir as pessoas, a conhecer
sentimentos alheios, foi onde aprendi ser mágica!
Um dia recebi um conselho que ser diferente mais
cedo ou mais tarde assusta e dá medo em algumas pessoas e que por elas terem
medo mim iriam me machucar e muito. Confesso que nunca entendi, porque o diferente
dá medo? Porque o “diferente” vive situações de exclusão, dependência e
solidão?
Na verdade, nunca acreditei nisso. Afinal,
sempre gostei de ser diferente! Hoje percebo, que esta crença minha é um
recurso de autoproteção contra inúmeros preconceitos e exclusões que vivenciei
e vivencio diariamente, mas, atualmente, este recurso anda tão fraquinho que
tenho medo que ele não resista por muito tempo, me ajude a romper com o
pensamento de que o mundo é somente para algumas pessoas, porque, pensar assim,
é cruel, é acreditar que o preconceito é algo natural sendo que na verdade não
é. Me ajude porque, não consigo vencer sozinha o preconceito e a exclusão!
Vamos pensar que nenhuma pessoa e nenhuma
sociedade é racista, homofóbica, machista, violenta, intolerante,
preconceituosa e excludente “naturalmente”. Essas são características adquiridas
historicamente e socialmente, se aprendemos a ser excludentes e
preconceituosos, podemos aprender a pensar de forma inclusiva, democrática e
solidária e dessa forma podemos sim, criar uma nova concepção de sociedade onde,
as pessoas não serão violentadas fisicamente e psicologicamente em razão da sua
cor de pele, do seu gênero, da sua identidade sexual, da sua condição social,
física e biológica.
Sonho ainda, viver um dia sem preconceito, sem exclusão, sem violência! Sonho correr livremente, tendo apenas, o cuidado de não entrar gravetos nos meus pés!
Descrição da imagem: Foto com árvores e pedras no fundo. Estou em pé com o corpo inclinado para traz e com as mãos apoiadas numa pedra grande. Estou com os pés descalços, pisando na areia de uma praia no município de Alcântara – MA. Uso um vestido estampado nas cores vermelha, amarela e laranja. Estou com os cabelos presos e uso óculos escuros com uma armação grossa. Na minha direita tem um coqueiro caído com as folhas secas e diversas pedras pequenas com diferentes tons de marrom e preto. Na minha frente tem uma pequena pedra preta.
Professora como a
senhora avalia seus alunos? Professora como é a sua prova? Como a senhora coloca
a nota de seus alunos? E etc. Etc. Etc. Etc. e… Essas são algumas das
centenas de perguntas que fui obrigada a responder para todas as funcionárias
da coordenação e gestão da escola que trabalho. Fazendo um grande esforço emocional
e psicológico para ser gentil e não perder as estribeiras enquanto, ouvia
pessoas vomitarem desconfiança e preconceito.
Ontem, quando estava
ministrando a minha quinta aula do dia, alguém, bateu na porta da sala de aula,
para me avisar que eu deveria comparecer na direção. Confesso, que fiquei
curiosa, pensei que finalmente, as pessoas da gestão da escola teriam percebido
que o ambiente escolar precisava se tornado minimamente acessível para eu
realizar meu trabalho com autonomia e segurança.
Não, tudo foi apenas engano meu. Tolice de uma profissional cega que sonha com um mundo acessível para todas as pessoas…
Ouvi muito esta semana frases do tipo, estou fazendo isso somente para ajudar a senhora, porque, sei que a senhora precisa de ajuda… cerca de trinta minutos. Enquanto, sentia um reboliço no meu corpo todo, me indignei e pensei que aquilo teria que acabar, busquei forças para responder, tantas barbaridades, ao lembrar que quando chegasse em casa poderia chorar no ombro do meu companheiro e que a noite seria recebida com aplausos pelos deuses do teatro durante meu ensaio e que dormiria linda e leve, cheia de bênçãos dos céus.
Calmamente, respondi,
desculpa, mas, não posso fazer uma coisa dessa. Esse não é um trabalho para
alunos, quem faz isso, é o docente, mas, no meu caso, como sou cega, não tenho
como corrigir uma prova impressa em papel, então, quem deve fazer é uma
funcionária (o) da escola.
Meio desajeitada, senti
que a senhora olhava na minha direção, sua voz mudou e com um tom meigo e sem
noção, me disse: professora encontrei essa solução para ajudar a senhora, já
tenho muito trabalho e, não posso assumir o compromisso de corrigir sua prova.
Estou fazendo isso, porque é para a senhora, somente para a senhora, para lhe
ajudar… porque gosto da senhora e, sei que tens muita dificuldade…
Respirei profundo, calma
e segura do que iria falar, respondi, não, a senhora precisa entender, que o
fato de uma pessoa corrigir minhas provas, porque, eu não enxergo e, portanto,
não tenho condições, para fazer, não é um favor e nem uma caridade, isso é um
direito, um direito inalienável para mim e para toda pessoa com deficiência.
Acessibilidade é um dos principais direitos universais, a partir dele é
garantido todos os outros direitos, inclusive, o direito à vida. Por isso, não
abro mão de pelo menos um mínimo de acessibilidade no meu ambiente trabalho.
Por acaso, se a
senhora não puder corrigir minhas provas, alguém vai ter que corrigir e, quem
precisa resolver isso são vocês, as responsáveis pela gestão da escola, por se
tratar de um direito básico, não existe nenhum acordo da minha parte para que
ele não se efetive.
Bom, esta conversa não parou por aí, a senhora insistiu em me convencer que sua proposta era uma atitude solidária e que ela não podia assumir uma tarefa a mais. E como se não bastasse, ainda, precisei repetir meu discurso muitas outras vezes, porque, se há uma coisa que funciona na escola que trabalho é a falta de comunicação entre as pessoas. Infelizmente, essas trabalhadoras da área da educação, ainda, não compreenderam que, acessibilidade não é um favor e nem uma caridade é um direito.
Descrição: na foto, estou de sentada de perfil, trabalhando em casa, preparando provas bimestrais no meu notebook . Uso um vestido com estampas geométricas na cor azul, amarela e rosa, tenho cabelos curtos, pretos e lisos..
No dia 31 de agosto finalmente
iniciei meu trabalho em sala de aula. Aproveitei para falar sobre formas de
avaliação e a didática das aulas. Demonstrei todo meu respeito e sinceridade
diante da turma, pedi a colaboração de tod@s, para que a nossa experiência em
sala de aula fosse produtiva e feliz.
Respondi perguntas
sobre minha vida pessoal, alguns estudantes, tinham curiosidade de ver meus
olhos e, é claro que eu mostrei, falei também, da minha formação acadêmica, do
lugar em que nasci. O mais interessante de tudo neste momento foi que nós
combinamos formas de diálogo durante as aulas, frequência e tipos de
atividades.
No primeiro dia de aula, solicitei em cada turma, que fosse criado um grupo de Whatsapp, pois, é através dele, que faço a lista de frequência e mantenho o controle de atividades e pontuação de cada estudante. Aproveito todos os momentos para falar sobre a importância da acessibilidade para que eu consiga ministrar as aulas.
Até o momento, em
todas as turmas que estou trabalhando, estou recebendo muita colaboração e já
conheço muitos dos meus alunos e alunas pela voz ou pelos movimentos corporais.
Todos tem demostrado
compreenderem a importância do silencio, no momento em que eu falo ou quando um
colega fala. Todos percebem o quanto é importante a organização da turma para
que eu possa me localizar no espaço e conhecer as pessoas.
Durante nossas aulas, acontecem situações extremamente engraçadas e assustadoras para os alunos, por exemplo, numa das minhas turmas de sexta feira, enquanto, eu estava explicando o conteúdo da aula, havia uma aluna, no final da sala ouvindo música com um fone. Aí, dei uma pausa na aula e identifiquei o local em que ela estava sentada e olhando na direção dela disse com um tom de voz calmo e gentil: você pode ouvir esta música em outro momento, o som está muito alto e está prejudicando meu raciocínio. A aluna tirou o fone do ouvido e ficou em silêncio, fez diversos gestos horrorizada, tentando entender como eu sabia que ela estava com fone no ouvido. Geralmente, meus alunos e minhas alunas, ficam assustados, mas, demonstram gostarem, quando eu passo por eles num dos corredores da escola e falo seu nome. Em diversos momentos ouço sussurros de estudantes falando, é incrível como ela conhece a gente, como será que ela faz isso?
Ainda não sei quais são as percepções e compreensões dos meus alunos e alunas sobre mim e também, ainda não sei quais são minhas percepções e compreensões sobre eles e sobre todas as pessoas que trabalham nessa escola. O que sei é que esta experiência de trabalho está sendo muito produtiva, sincera e feliz!.
Olá! Esse post é um
desabafo de frases preconceituosas que ouço diariamente no meu trabalho. Esta
semana, decidi falar para várias pessoas o quanto as frases delas são
preconceituosas e doentias, mas, de nada adiantou. As mais corriqueiras são:
– Ah professora! Todo mundo tem que entregar impresso.
– Só que eu não sou
todo mundo.
– A senhora tá usando
o livro? Tem que usar.
– Não, não uso nenhum
recurso de papel. Ah! Também não uso lápis, caneta, quadro, pincel, borracha,
etc.
– Como a senhora
controla os alunos?
– Não estou aqui para
controlar alunos, mas, sim para ministrar aulas, é para isso que o estado me
paga.
– Esse é o padrão das
aulas!
– Minhas aulas não seguem
este padrão, porque, eu não sou uma professora padrão.
– Essa é a regra de
todas as escolas!
– Uma regra totalmente
inacessível que precisa ser adaptada
– Olhe professora é
assim que eu faço é assim o correto!
– Ok. Legal sua forma
de trabalhar.
– Se a senhora quiser
posso lhe dar umas dicas!
– Obrigada.
– Professora a
senhora quer que eu vá nas salas para pedir que os alunos se comportem?
– Como? Essa proposta
foi a mais inusitada que recebi.
– Quem está ficando
na sala com a senhora professora?
– Os alunos e as alunas.
– Quais são os
limites que a senhora impôs para a turma?
– Desculpe, não
trabalho com essa categoria.
– Os alunos perguntam
sobre seu problema?
– Não, meus alunos
não sabem quais são meus problemas.
No final de junho deste
ano fui aprovada num seletivo para ministrar aulas de Arte na rede pública de
ensino do Maranhão.
Quando decidi que
queria ser professora do ensino médio, sabia que enfrentaria diversos tipos de
situações boas e ruins. Por isso, planejei cada passo do meu trabalho, inclusive,
prevendo situações que poderiam ocorrer sem estarem previstas. Criei uma metodologia
específica para ensinar Arte e tracei estratégias de convivência social.
No meu primeiro dia
na escola fui muito bem recebida pela gestora e por todos os profissionais. Imediatamente,
percebi olhares e cochichos curiosos. Algumas pessoas pareciam estarem anestesiadas,
talvez, por uma multiplicidade de sentimentos, medo, admiração, preconceitos, carinho…
Afinal, não é todo dia que se ver uma
professora cega!
Ouvi a voz de uma
aluna perguntando para uma senhora se eu era a nova professora de Arte. Ela respondeu
que sim e completou a frase dizendo que era “especial”, que eu era cega. Alguns estudantes, se esforçavam para me
olharem por trás da parede de uma janela de vidro que separa o local em que
estava sentada de onde eles estavam.
– Essa é a professora
de arte? E ela é cega?
– Tem certeza? Como será a aula dela?
A curiosidade a meu
respeito em alguns minutos se espalhou pela escola, tornei-me, o assunto do
momento. Todos, principalmente, os profissionais da escola me perguntavam sobre
minhas aulas, como faço avaliação? Como faço chamada? Etc. Algumas curiosidades,
eram extremamente preconceituosas e muitas têm frases como “desculpe é que
nunca conheci ninguém assim”… a situação mais terrível que vivencio é quando
alguém fala comigo me infantilizando… juro para você, que se pudesse daria um
tabefe bem no meio do nariz dessas pessoas, mas, lembro que não podemos fazer
tudo o que temos vontade porque, podemos ter sérias consequências.
O fato de eu ser uma professora
de Arte cega, desde que fui contratada pelo estado, tenho vivenciado situações
em que sou colocada como um tipo de aberração, uma espécie de novidade a ser
contemplada e temida, minhas capacidades profissionais e intelectuais foram
posta em dúvida, todos queriam saber sobre minha formação acadêmica e se eu
tinha experiência de trabalho, por outro lado, me identificaram como uma
espécie de ser, que merecia ser admirada e compreendida como um exemplo de
superação.
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As políticas de educação brasileira são influenciadas pela globalização e pelas regras internacionais que formulam o funcionamento da economia nacional e mundial.. Porém, nem todas as pessoas são inseridas num sistema de ensino universal, como por exemplo, as pessoas com deficiência.
Na década de 1990 a educação especial foi inserida no sistema nacional de educação e o ministério da educação elaborou a Política Nacional de Educação Especial. A partir daí foram aprovadas uma série de legislação sobre educação especial, inclusive, a LDB nº. 9.39496 que define a educação especial como uma modalidade de ensino destinada aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino. O termo “preferencialmente” abriu a possibilidade de o ensino continuar nas instituições especializadas e não somente na rede regular.
A oficialização da educação especial e da sua inserção ao sistema nacional de ensino, não foram suficientes para acabar com a exclusão de pessoas com deficiência no ambiente escolar. A legislação brasileira dá brechas para a continuação de diversos processos de exclusão, atualmente, ainda existem, centros especializados que atendem pessoas com deficiência. Esses centros contribuem para a exclusão de pessoas com deficiência, porque não permite que essas pessoas mantenham relações com a sociedade de modo direto e contínuo, não há a valorização da pessoa com deficiência enquanto agente autônomo individual. Por outro lado, mesmo sendo garantido por lei a pessoa com deficiência o direito de estudarem escolas de ensino regular, não há nenhuma política pública no Brasil efetiva que valorize as especificidades das pessoas com diferentes tipos de deficiência.
Para mim, só é possível existir uma educação especial de forma efetiva se na sua execução for levada em consideração as especificidades de cada tipo de deficiência, por exemplo, a escolarização de pessoas cegas, tem que ser diferente da escolarização de pessoas surdas. Nesse sentido, penso que o Brasil está andando em passos lentos em direção de uma educação inclusiva e democrática.
Logo que me viu, me abraçou, segurou minha mão, ao mesmo tempo que falava que havia lido vários textos e algumas crônicas no meu site. Em êxtase falou, como pode você escrever e falar sobre tantos assuntos diferentes sendo cega?
Essa foi a vez em que ouvi um trilhão de palavras extremamente preconceituosas de uma única pessoa num mesmo instante. Fiquei sem palavras e atitude ao perceber que essa pessoa não tinha consciência do quanto ela estava sendo preconceituosa comigo.
Em alguns instantes, lembrei e refleti sobre inúmeras situações de preconceito que sofri, desde minha infância. Em razão dos seus efeitos, violências, dores, exclusão, humilhação e medos pensei que ele destruiria minha vida. Felizmente, o destino provou que o preconceito não me destruiria.
Nesse dia, vivenciei um preconceito diferente, feito por uma pessoa que era tão preconceituosa, mais, tão preconceituosa, que não sabia que era preconceituosa. E essa pessoa, era tão inconsciente de si e do seu preconceito, que acreditava que não era preconceituosa e, que lutava contra o preconceito. O que descobri é que não importam as características do preconceito, de todas as formas, ele maltrata e mata o corpo e a alma e que todos nós, seres humanos, temos nossos preconceitos, costumamos julgar, condenar e excluir as pessoas que não nos agradam, aquelas que não se encaixam em nossos rótulos.
O preconceito não é inato ao ser humanos, nós aprendemos a ser preconceituosose muitas vezes, aprendemos como nossos sofrimentos.
Fiquei com o coração geladinho de tristeza, minhas mãos e minha voz tremiam, senti o desejo de chorar, não porque, estava sofrendo preconceito, mas por estar ao lado de uma pessoa que não conhecia a si mesma, que não percebia suas atitudes boas e ruins, que desconhecia o seu próprio EU.
Têm pessoas que dizem, sou preconceituosa mesmo e pronto. As que dizem, não me importo com isso ou aquilo, não tenho nada contra, desde, que não chegue perto de mim. Ou as que falam, que bacana, você é um exemplo de superação, mas, deus me livre de acontecer isso na minha família ou comigo, isso seria um castigo, cruz credo!
Existem algumas pessoas, que são conscientes do que o preconceito faz e por isso se esforçam para se curarem. Eu me incluo nesse grupo. É o que penso, porque talvez, posso ter tanto preconceito que ainda não consegui identificar o tipo de preconceituosa que sou.
Mas, como penso e acredito que já identifiquei o tipo de preconceituosa que sou, estou buscando me curar e você, já identificou o tipo de pessoa preconceituosa você é?
No dia 13 de junho de
2019, o Supremo Tribunal Federal, votou no projeto de lei 672-19, do senador
Weverton Rocha PDT-MA, que altera a Lei de Racismo, passando incluir o
preconceito contra orientação sexual e identidade de gênero. Além desse, está
em trâmite o projeto de lei 191/17, do senador Jorge Viana PT-AC, que altera a
Lei Maria da Penha para inserir mulheres transexuais.
Agora no Brasil, a
homofobia e a transfobia são crimes, com pena de até cinco anos de prisão. Ao
contrário do que disse o líder do atual governo semana passada, que a decisão
do STF foi equivocada em criminalizar casos de preconceitos, discriminação e
agressão contra lésbicas, gays, bissexuais e travestis.
Acredito que já
estava, mais do que no tempo do STF cumprir com uma das suas principais obrigações
que é trabalhar para defesa e proteção de grupos sociais que historicamente são
mais vulneráveis a violências, discriminação e exclusão social como os idosos,
pessoas com deficiência, mulheres, a população negra, crianças, povos indígenas
e a população LGBT.
Até a semana passada,
nunca havia sido aprovado nenhum projeto de lei que criminalizasse a homofobia
e a transfobia no Brasil. Segundo dados da ONU, o Brasil, é o país do mundo, mais
violento e o que mais mata pessoas LGBT e nem sequer, existem dados oficiais
que mostrem o alto índice de violência contra essas pessoas. Não é aceitável,
que em nosso país pessoas morram, sejam agredidas, estupradas e excluídas da
sociedade em razão da sua identidade de gênero.
A criminalização da
homofobia é importante e necessária, mas, para que os números de violências
contra a população LGBT caiam é necessário que sejam criadas políticas públicas
específicas, programas de saúde, educação, trabalho e lazer pautado em
princípios de respeito ao ser humano e na valorização da vida.
É o atual governo que
está equivocado ao dizer que uma empresa vai pensar duas vezes em contratar um
homossexual porque, qualquer besteirinha que aconteça será crime, e ainda, que
a criminalização da homofobia fere a liberdade religiosa porque, parte dos
cristãos condenam a homossexualidade. A ignorância e o preconceito do líder do
governo são uma praxe, desde o início da sua campanha ficou claro que ele
desconhece qualquer princípio de direitos humanos, de classe e muito menos princípios
cristão.
Infelizmente, grande
parte de jornais nacionais e inclusive alguns de esquerda, estão compactuando com
o pensamento do atual governo ao considerarem que a criminalização da homofobia
fere o direito à liberdade de pensamento e a livre expressão e esta lei é somente
para punir a esquerda e a população pobre do Brasil.
Para mim, o direito
de liberdade de pensamento e a livre expressão de uma pessoa não são direitos
para serem usados para violar, discriminar, excluir e agredir outras pessoas. Essas
atitudes são criminosas e quem as comete devem ser presos julgados e
condenados. Não é à esquerda e nem as pessoas pobres que serão punidas, mas,
sim, aquelas pessoas que por algum motivo agredirem, discriminarem, ofenderem, xingarem,
etc., outras pessoas em razão da sua identidade de gênero ou orientação de sexual.
Espero que o líder do atual governo deixe de usar o cristianismo para disseminar sua ignorância, preconceito e violência e conheça os principais princípios que Jesus Cristo nos ensinou e deixou para nós, que, foi o amor, a união e o perdão. Princípios esses, que deveriam ser a base de um governo que diz cristão e que deveria conduzir sua gestão tendo como objetivo difundir o respeito a diversidade, a democracia e os direitos humanos.
Descrição: imagem com as cores e os significados da bandeira LGBT. A cor rosa significa a sexualidade, vermelho: a via, laranja: a cura, amarelo: a luz do sol, verde: a natureza, azul: a serenidade e a harmonia, violeta: o espírito.
Depois de ouvir
alguns tutoriais sobre mobilidade de pessoas cegas, decidi sair do meu
apartamento sozinha, desci as escadas devagar e passei um tempinho na porta do
meu bloco, muitas pessoas subiam e desciam as escadas, e, eu dava bom dia para
todas, com a intenção de localizá-las e perceber diferenças de vozes, num
determinado momento, minha vizinha falou comigo, puxou conversa, aproveitei
para falar que estava cega, depois, chegou outra vizinha e eu contei que estava
cega, ela perguntou como foi que fiquei cega, a quanto tempo estava cega, etc,
etc, etc.
Todas as pessoas que
passavam próximo do bloco em que moro, minhas vizinhas falavam, tu acredita que
ela está cega agora? Eu respondia, sim, agora sou cega e, é irreversível e
continuava respondendo perguntas e sempre concluindo com a frase sim, agora sou
cega, se por acaso você me ver por aí fale comigo porque não posso ver você, porque
agora sou cega.
Enquanto falava para
as pessoas que estava cega, percebi que a cegueira não me incomodava mais, pelo
contrário, me sentia bem, bonita, feliz e orgulhosa por ser cega, me sentia
diferente da maioria das pessoas e essa sensação me deu muito prazer.
Nesse dia, com a ajuda
de um tutorial, preparei um almoço romântico, meu esposo ficou encantado quando
olhou a comida e a organização da mesa, e, nós comemoramos porque, não havia me
machucado, não me cortei e nem quebrei nenhuma louça.
Nós estávamos
felizes, e decidimos ir ao cinema pela primeira vez depois que fiquei cega. Demorei
cerca de três horas para me arrumar, lavei e hidratei meus cabelos, esfoliei
minha pele, coloquei uma roupa no meu corpo que fazia eu me sentir bonita e confortável.
Fiquei na frente do espelho tentando me maquiar, mas, não consegui e mesmo
assim, me sentia bonita e empoderada, e estava descobrindo minha história e
minha identidade de mulher cega.
Desde esse dia, todos
os meus dias são desafiadores, cheios de novidades, de aprendizados, às vezes,
tem uns que são mais difíceis do que os outros, mas, o certo é que todos os
dias encontro pessoas preconceituosas, ignorantes, simpáticas, alegres,
sensíveis, generosas e humanas. Todos os dias aprendo algo e descubro um mundo
novo.
Hoje, sempre me
apresento como uma mulher cega, não tenho mais medo do escuro, tenho uma boa
mobilidade, os sons não me incomodam tanto, aprendi a cozinhar e me maquiar,
aprendi a digitar, “tão rápido quanto a velocidade da luz”, aprendi até acessar
Netiflix na TV, minhas plantas estão verdes e saudáveis, voltei a ser
professora de Arte. Imagine você com uma PROFESSORA DE ARTE CEGA!
Esse foi o quarto
post da série “o que você faria se um dia acordasse cego (a)?” Você gostou?
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Um dia de manhã
cedinho, descobri que precisava de ajuda, estava sofrendo e não queria ficar
sozinha, por isso, liguei para uma colega de turma do Programa de Pós-Graduação
em Políticas Públicas da UFMA, eu fazia mestrado e ela doutorado, havíamos
saído poucas vezes juntas com colegas da turma e depois que eu tinha ficado
cega não havia conversado com a Berenice, a Bere, mas, como todo mundo a chama
de Bere eu a chamo de Berezinha, eu nem gosto de diminutivos, só a chamo assim,
para me diferenciar das demais pessoas.
Falei para ela que havia
perdido a visão, falei sobre muitas coisas e sem pausas, se por acaso nós nunca
mais nos falássemos, eu já tinha falado tudo o que tinha para dizer. Depois de
eu falar muito, ela me disse: vou combinar com as meninas para nós irmos te
visitar. Além disso, ela falou que poderia me acompanhar quando eu quisesse
sair.
Logo, que desliguei o
telefone, fui fazer a poda das minhas plantas, enquanto pensava que havia
descoberto o quanto é libertador falar sobre nossas dores, medos e
experiências.
Em seguida, tive a
ideia de pesquisar sobre mulheres cegas na internet, encontrei vários vídeos no
youtube, alguns ensinavam pessoas cegas a cozinharem, a cuidar da casa, a se
maquiarem, a falarem, etc. Encontrei até aulas de mobilidade. Fazer pesquisas
na internet foi a primeira coisa que aprendi depois que fiquei cega.
Depois, da primeira
conversa que tive com Bere, ficamos nos falando por mensagens de WhatsApp. Na
semana seguinte, recebi a visita dela e de mais duas amigas de turma a Ivana e
a Ângela. Nosso encontro foi incrível, sorrimos e conversamos muito. Depois
desse dia, retornei para minhas aulas no mestrado e me envolvi em muitas
atividades.
Esse é o terceiro post da série “o que você faria se um dia acordasse cego (a)?” Você gostou? Deixe seu comentário e compartilhe essa história nas suas redes sociais.
Quando descobri que
minha cegueira era irreversível, nenhum sentimento me envolveu. Pensei em ir
almoçar numa churrascaria e beber uma cerveja bem gelada. Falei do meu desejo
para meu esposo e ele disse: você acabou de ficar cega, como pode pensar em
comida e bebida numa hora dessas?
Fiquei em silêncio e
pensei que pessoas “normais” diante de uma situação semelhante à que eu estava
passando ficariam triste. Mas, sempre ouvi meus familiares dizerem que eu não
sou e nem nunca fui normal. Porque seria agora? Eu, naquele momento não estava
triste, mas, evitava pensar como seria minha vida sem enxergar.
Um dia, depois de
chegar em casa do hospital, andei em direção ao banheiro e a minha cabeça bateu
no canto da porta, senti que escorria sangue na minha testa. Parei em frente um
espelho, certifiquei-me tocando-o com as duas mãos para saber se o espelho
estava na direção do meu rosto. Fiz esforço para enxergar o machucado da minha
cabeça, mas, não consegui. Foi aí que chorei pela primeira vez por não
conseguir enxergar.
Depois, desse
acontecido tudo ficou triste e difícil para mim e pensei que não sobreviveria
sem enxergar. Sentia medo do escuro, por isso, sempre estava com todas as
lâmpadas acesas e como precaução, em caso faltasse energia, acendia muitas velas
em cada cômodo do meu apartamento. Tinha dificuldades para me vestir, para
comer, para falar com as pessoas, porque eu nunca sabia onde elas estavam e
nunca entendia o som das palavras que elas pronunciavam, não conseguia andar
sozinha e sentia muita dor de ouvido, com isso, passei evitar sair de casa.
Cada dia que passava me afastava mais do meu esposo, nunca atendia ligações,
não respondia E-mails e nem mensagens de WhatsApp. Eu, apenas chorava e quando
não chorava era porque estava pensando que, “não, não sou cega”, apenas, “estou
cega”, é um problema de saúde, mas, irei ficar boa…
Um dia de manhã
cedinho, fiquei em frente um espelho por muito tempo. Era uma sexta feira.
Sempre amei as sextas feiras, sabe: encontro com amigas, sorrisos, festas,
barzinhos, músicas ao vivo, cervejas… mas, aquela sexta amanheceu triste, sem
brilho e sem entusiasmo, me sentia sozinha, assustada e feia.
Fui na minha varanda
e percebi que minhas plantas estavam morrendo, imaginei que se eu continuasse
na situação em que estava, seria eu, quem acabaria morrendo. Nesse momento,
descobri que precisava de ajuda. Busquei alguém, para que pudesse falar da
minha vida e encontrei, vocês não imaginam o quanto essa conversa mudou minha
vida!
Esse é o segundo post da série “o que você faria se um dia acordasse cego (a)?” Você gostou? Deixe seu comentário e compartilhe essa história nas suas redes sociais.
Olá! Essas últimas
semanas foram corridas, houveram muitas mudanças na minha vida, saiu o
resultado de um concurso público que fiz no início do ano e de um seletivo e
adivinhem, fui aprovada nos dois, e já estou trabalhando!
Tenho escutado alguns profissionais da educação dizerem que,
provavelmente, EU SOU a única PROFESSORA DE ARTE CEGA NO MARANHÂO. Antes, do
meu primeiro dia de trabalho mergulhei no meio de um montão de livros, textos,
filmes, músicas e poesias para planejar minhas aulas de Arte. Além disso, estou construindo uma metodologia
própria e específica, pautada na oralidade, no diálogo entre alunas (os) e a
professora para eu ministrar minhas aulas. Por isso, não pude escrever nas
últimas semanas a continuação do post “o que você faria se um dia acordasse
cego (a)?”
No primeiro post da série o “o que você faria se um dia
acordasse cego (a)?” Contei para vocês como foi o dia em que acordei cega.
Lembram? Quando falei que quando cheguei em casa depois de descobrir no
hospital que minha cegueira era irreversível, passei um tempo pensando que eu
era uma outra pessoa, “aquela mulher cega não era eu”. Nos próximos posts
contarei como foi meu processo de adaptação e aceitação depois que fiquei cega.
Leiam e deixem seu comentário!
Hoje vou falar para você o que eu fiz quando fiquei cega, aliás, primeiro
vou lhe contar como fiquei cega. Mas, antes de começar a contar, quero lhe dizer
que ficar cega foi a coisa mais importante, desafiante e incrível que aconteceu
na minha vida!
Na manhã de um 17 de abril qualquer, acordei bem cedinho sem
conseguir ver, passei alguns segundos em frente ao espelho, tentando abrir meus
olhos com as duas mãos, mesmo assim não conseguia ver, deitada, passei vários
minutos abrindo e fechando os olhos, pensando que esse exercício faria eu voltar
a ver. Cerca de dez minutos abrindo e fechando os olhos, senti, como se houvesse
saído um tampão dos meus ouvidos, de repente, ouvia muitos barulhos, sons cheguei
a ouvir até sussurros do meu vizinho que mora no apartamento num andar depois
do meu, as orações da manhã da vizinha do lado, ouvia o som de todos os meus
órgãos, o chão parecia distante e meu corpo, desiquilibrado.
Murmurei baixinho: estou cega… fiz uma breve retrospectiva da
minha vida, colocando todos meus sonhos e gostos no passado, porque pensei que
minha vida havia acabado. Lembrei que recentemente havia completado trinta anos
e estava cursando um dos cursos de pós-graduação mais concorridos do país,
havia passado por algumas graduações na Universidade Federal do Maranhão, havia
passado em um concurso, mas, como não gostei da experiência, resolvi pedir
exoneração para me dedicar aos estudos, amava sair com amigas, amava viajar,
cultivava alimentos orgânicos, gostava de assistir óperas, ir ao cinema,
desenhar e fazer xilogravuras, além, de declamar poemas em voz alta, quando não
tinha ninguém para conversar. Lembrei ainda, que vivia um casamento feliz.
Parei de pensar e chamei meu esposo e disse de uma maneira calma: “estou
cega”. Ele pensou que se tratava de uma brincadeira boba. Chegou perto de mim,
com a intenção de me repreender, mas, ficou estático ao me olhar sentada na
cama, pegou no meu rosto e disse que meus olhos estavam muito vermelhos. Ouvi
sua voz trêmula, suas mãos tremiam e estavam frias e suadas. Olhei para ele,
mas, não conseguia mais enxergar as expressões do seu rosto.
Ficamos cerca de três minutos em silêncio, até que eu o chamei de
lindo. Não sei o porquê, mas, naquele dia, meu esposo parecia mais lindo, mesmo
eu não podendo ver seu rosto, eu podia sentir sua pele e seu coração como nunca
havia sentido. Ele não conseguia se mover, ficou parado e pensativo. Eu
levantei e fui preparar nosso café da manhã. Em seguida fomos para o hospital, o
diagnóstico saiu depois de muitos exames, enfim, a cegueira, era irreversível.
Ao ouvir o diagnóstico meu esposo ficou desapontado e desesperado, perguntou ao médico se era possível um transplante que ele poderia me doar um olho… reclamou… chorou e depois ficou em silêncio profundo. Percebi o quanto ele estava frágil naquele momento e escolhi ser forte e resistir por nós dois.
No dia em que fiquei cega, não chorei e nem gritei, apenas, senti saudades da minha infância, da vida na roça e dos meus irmãos. Pensei nesses momentos felizes da minha vida, para não pensar que naquele momento estava só eu e a cegueira, era, eu e ela.
Passei um determinado tempo para descobrir que minha cegueira não é a “OUTRA”, ou era “OUTRA” ou “ELA”, demorei entender, que a cegueira é uma determinante da minha identidade, que expressa o que sou e é uma das razões para minhas lutas coletivas e individuais, mas, isso é assunto para o próximo post.
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Descrição da imagem: minha foto. Estou com o rosto frontal, sorrindo, usando uma camiseta do projeto Resista como uma mulher cega na cor amarela, estou segurando minha bengala de alumínio na mão esquerda e uso óculos escuros. Fim da descrição.
A Educação Surdocegos nasceu nos EUA. No Brasil a educação escolar de pessoas surdocegas teve início na década de 1960, após a ativista social surdocega Helen Keller vir ao Brasil. Keller, considerada nos tempos atuais a mais surpreendente Surdacega de todos os tempos. Sua visita motivou a educadora Nice Tonhozi Saraiva, que trabalhava no processo de escolarização de pessoas cegas no Instituto de Cegos Padre Cícero em São Paulo a trabalhar na educação escolar de surdocegos a partir de 1992.
Foi Nice saraiva que
fundou o primeiro centro educacional para pessoas surdocegas no Brasil a SEADAV
– Serviço de Atendimento ao Deficiente Audiovisual.
Saraiva, já
trabalhando na Educação de cegos no Instituto de Cegos “Padre Chico” em São
Paulo dedicou-se também a Educação de Surdocegos a partir de 1962 quando tão
logo voltou dos EUA.
Em 1963, por
intervenção do estado a SEADAV foi transferida de São Paulo para São Bernardo
do Campo.
Em 1968, a SEADAV
passou a se chamar ERDAV – Escola Residencial para Deficientes Audiovisuais.
Em 1977, para
garantir maior autonomia da escola, foi novamente alterada e passa a ser
chamada de FUMAS – Fundação Municipal Anne Sullivan, que ficou sendo a
mantenedora da Escola de Educação Especial Anne Sullivan, que funciona até os
dias de hoje.
No entanto, a
educação escolar de surdocegos no Brasil só passou a ser impulsionada na década
de 1990, devido o apoio de instituições estrangeiras, como a Sense
Internacional Latino América e a Perkins School, pela promoção de cursos de
capacitação na área de surdocegueira, promoção de eventos e produção de
impressos informativos.
De acordo com Farias
(2015) pesquisas sobre Surdocegueira e educação escolar de surdocegos no Brasil
estão dando seus primeiros passos, iniciados no limiar do século XXI, a partir
da publicação pelo Ministério de Educação do “Programa de Capacitação de
Recursos Humanos do Ensino Fundamental: Deficiência Múltipla” pela Secretaria
de Educação Especial em 2000.
A entrada no século
XXI é demarcada pelo compromisso ético e político de garantir a universalização
da educação básica e a qualidade da educação e de promover o respeito à
diversidade humana. De forma transversal a estes aspectos, e como condição para
universalizar a educação básica, emerge o debate sobre a organização e a função
da Educação Inclusiva como uma ação política, cultural, social e pedagógica,
desencadeada em defesa do direito de todos os alunos de estarem juntos,
aprendendo e participando, sem nenhum tipo de discriminação. A educação
inclusiva constitui um paradigma educacional fundamentado na concepção de
direitos humanos, que conjuga igualdade e diferença como valores
indissociáveis, e que avança em relação à ideia de equidade formal ao
contextualizar as circunstâncias históricas da produção da exclusão dentro e
fora da escola.
Nesse contexto foi criada as Diretrizes Nacionais para a Educação
Especial na Educação Básica, aprovada em 03 de julho de 2001. O art. 8º, VIII,
que destaca a flexibilidade temporal do ano letivo, assim determinando:
Temporalidade
flexível do ano letivo para atender as necessidades educacionais especiais de
alunos com deficiência mental ou com graves deficiências múltiplas, de forma
que possam concluir em tempo maior o currículo previsto para a série/etapa
escolar, principalmente nos anos finais do ensino fundamental, conforme estabelecido
por normas dos sistemas de ensino, procurando-se evitar grandes defasagens
idade/série.
Esta diretriz tem como fundamentação legal a Constituição de 1988, a
Lei 10.172/01 – Plano Nacional de Educação, Lei de Integração 7.853/89, Lei
8.069/90 – ECA, Lei 9.394/96 – LDBEN, Portaria/MEC 1.679/99 – Educação superior
e a Declaração de Salamanca de 1994. A declaração de Salamanca de 1994 é o
documento que mais destaca surdocegueira e os surdocegos em seu artigo 21
destaca às Políticas educacionais de surdos e de Surdocegos.
O art. 10 das
Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica destaca
que:
Os alunos que
apresentam necessidades educacionais especiais e requeiram atenção
individualizada nas atividades da vida autônoma e social, ajudas e apoios
intensos e contínuos, bem como adaptações curriculares tão significativas que a
escola comum não consiga promover, podem ser atendidos, em caráter
extraordinário, em escolas especiais, públicas ou privadas, atendimento esse
complementado, sempre que necessário e de maneira articulada por serviços de
saúde, trabalho e assistência social.
Assim, é garantido ao
aluno surdocego uma educação escolar individualizada em que o trabalho é
desenvolvido entre um professor para cada educando. Esse processo é
praticamente impossível do ponto de vista prático-metodológico o
contrário. O art. 12, inciso 2º descreve
que:
Deve-se assegurada,
no processo educativo de alunos que apresentam dificuldades de comunicação e
sinalização diferenciadas dos demais educandos, a acessibilidade aos conteúdos
curriculares, mediante a utilização de linguagens e códigos aplicáveis, como o
sistema braille e a língua de sinais, sem prejuízo do aprendizado da língua
portuguesa, facultando-lhes e as suas famílias a opção pela abordagem
pedagógica que julgarem adequada, ouvidos os profissionais especializados em
cada caso.
Atualmente, existem
algunas instituições empenhadas em promover a inclusão social de quem possui
surdocegueira. Entre elas encontram-se: Associação Brasileira de Pais e Amigos
dos Surdocegos e Múltiplos Deficientes Sensoriais (Abrapascem), Associação
Brasileira de Surdocegueira (Abrasc), Associação para Deficientes da Áudio
Visão (Adefav – dirigida pela primeira educadora de surdocegos no Brasil, Ana
Maria de Barros Silva), Ahimsa – Associação Educacional para Múltipla
Deficiência, Escola Anne Sullivan, Instituto Benjamin Constant, Centro de
Treinamento e Reabilitação da Audição (Centrau) e Grupo Brasil de Apoio ao
Surdocego e ao Múltiplo Deficiente Sensorial (congrega profissionais,
instituições, pais e surdocegos), Centro de Integração Vítor Eduardo (Cive),
entre outras.
No Maranhão não
existe nenhum centro, instituto ou escola que seja específico para a educação de surdocegos.
REFERÊNCIAS
Educadores discutem desafios
da inclusão das pessoas surdocegas. Matéria do jornal Comércio, publicada em:
13 Novembro 2017 14:40:30. Disponível
em:www.adjorisc.com.br/jornais/jornaldocomercio/educação/educadores-discutem-desafios-da-inclusão-das-pessoas-surdocegas-1.2000734.
Acesso em: 18.05.2019. 10:h34.
Este post tem como
referência o livro Surdocegueira: empírica e científica de Alex Garcia
Braille, Língua de Sinais, alfabeto digital, língua de sinais adaptada, Braille tátil, escritas na mão, guia-intérprete compreendido como recurso comunicativo, são exemplos de recursos que podem ser utilizados no processo de escolarização de pessoas surdocegas.
A Surdocegueira possui um potencial poder retaliativo da estrutura e desenvolvimento humano. Estas características podem ser em parte transformadas, à medida que, a acessibilidade, em seus diversos campos de atuação for colocada em prática.
A Acessibilidade, enquanto mecanismos de atuação e promoção da pessoa surdocega, deve possibilitar o acesso a comunicabilidade, através de meios, respeitando e considerando suas dificuldades e características plurais e ao mesmo tempo, individuais.
O Direito à Comunicabilidade garante o direito a à Livre Expressão, que para pessoas surdocegas, é um direito constantemente negado.
Algumas sugestões para a comunicação na educação escolar de surdocegos:
Manter a luz na
direção de quem fala;
Manter-se na linha de visão;
Não se mover muito, e ao usar gestos, manter
as mãos à altura do rosto se ainda faz LOF e ao nível do peito se não o faz;
Separe com cuidado as
palavras, tente evitar as letras em script, pois é difícil para a pessoa com US
ler o contorno das letras;
Usar um “pontador”
para direcionar os olhos do estudante;
Manter os sinais
dentro do campo de visão do aluno;
Manter o mínimo de
alfabeto manual;
Usar sinais falando
normalmente; – manter claros os sinais e sentenças;
Mantenha uma
distância confortável 4 a 5 pés é razoável;
Busque conhecer e desenvolver formas
aumentativas de comunicação, como o alfabeto manual dactilológico, a escrita na
mão international Standard Manual Alphabet;
Princípios
norteadores da educação escolar de surdocegos
a) Atitude do
Educador b) Ambiente de Educação/aprendizagem c) Relações com o Surdocego
Comportamentos comuns
de crianças Surdocegas na escola
Demonstração de que
não deseja interagir com nada;
Ela pode não ser
capaz de olhar e sorrir a outros. Poderá ser complexo no início dizer se a criança
é ou está feliz ou não;
As interações terão
que incluir mais abraços e movimentos;
A criança surdocega
pode não alcançar as destrezas e habilidades motoras para sentar, parar, rolar
e caminhar na mesma idade que uma criança que não é surdocega;
A criança pode
parecer assustada de se mover fora de seu espaço corporal;
A criança poderá
ficar sempre ou muito tempo de cabeça abaixada, podendo tocar os olhos de forma
constante ou mover suas mãos e dedos para obter estimulação;
Em um primeiro
momento a criança pode não querer ser tocada ou tocar as pessoas e os objetos;
Poderá, com frequência,
ter as noites e os dias confundidos;
Pode não querer usar aparelhos de audição e/ou
óculos;
Pode nunca aprender a
falar (dependendo do grau de sua perda auditiva), porém pode aprender a se
comunicar de alguma maneira. Tão somente será uma maneira diferente da fala;
A criança poderá comunicar-se tendo como forma condutas inapropriadas e/ou inadequadas;
Se você gostou desse post compartilhe nas suas redes sociais e contribua para uma educação escolar mais inclusiva em nosso país!
Este post tem como
referência o livro Surdocegueira: empírica e científica de Alex Garcia
Definição
O termo surdocegueira, foi adotada na 1° Conferência Mundial Hellen Keller, que aconteceu no dia 16 de setembro de 1977, em Nova York., a qual conceitua surdocegos como: indivíduos que têm uma perda substancial de audição e visão, de tal modo que a combinação das suas deficiências causa extrema dificuldade na conquista de habilidades educacionais, vocacionais, de lazer e sociais.
Pessoas surdocegas segundo a legislação nacional e internacional são consideradas pessoas com deficiência múltipla.
Classificação
Surdocegueira pré-simbólica:
pessoas que são congenitamente Surdocegos ou aqueles que adquiriram a surdocegueira
antes da estruturação da linguagem. A pré-linguagem é a característica
fundamental nesta classificação, mas, isso não significa que, ao nascer, um
indivíduo Surdocego não apresente resíduo audiovisual, mesmo que rudimentares.
Surdocegueira pós-
simbólica: São pessoas com surdocegueira adquirida, após a estruturação da
linguagem; surdez congênita com posterior cegueira; cegueira congênita com
posterior surdez em indivíduos que apresentam perdas substanciais de audição e
visão. Há relativamente poucas pessoas
que são totalmente Surdacegas e, destas, somente uma pequena fração não possui
audição e visão desde o nascimento.
Legislação que
garante o direito da pessoa Surdocega
Declaração Universal
dos Direitos Humanos de 1948; A Declaração dos Direitos das Pessoas com
Deficiência de 1975; A Promulgação Interamericana para a Eliminação de Todas as
Formas de Discriminação contra as pessoas com deficiência de 2001; A declaração
de Salamanca de 1994; Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação
Básica, aprovada em 03 de julho de 2001; As Normas Uniformes das Nações Unidas
para a Participação e Igualdade das Pessoas com Deficiência de 1993.
O que são normas uniformes:
São um conjunto de
vinte e duas disposições favoráveis que contemplam praticamente toda a vida de
uma pessoa com deficiência. Foram aprovadas pela Assembleia Geral das Nações
Unidas em sua 48º sessão, mediante resolução 48/93 de 20 de dezembro de 1993.
Este post tem como
referência o livro Surdocegueira: empírica e científica de Alex Garcia
A técnica Braille
consiste em pontos em relevo que combinados formam letras. Para escrevê-los
usamos uma chapa, também chamada de “reglete”, e uma punção. Usamos também uma
brailler – máquina de escrever constituída de seis teclas. Uma característica
importante da técnica braille é que ela independe de materiais físicos como o
reglete, a punção ou a brailler para ser comunicativa. Apenas devemos entender
que a técnica braille constitui-se de “seis pontos não obrigatoriamente em
relevo” para estabelecer uma comunicação, ou seja, onde houver a
possibilidade de trabalharmos “seis pontos” a técnica braille estará
sendo usada e bem aceita.
Tellethouch: Este
aparelho tem teclado de uma máquina Braille e um teclado normal. O teclado
Braille, assim como o teclado normal levantam na parte de trás do aparelho uma
pequena chapa de metal, a cela braille, uma letra de cada vez. A Tellethouch
constitui-se, apesar de sua idade de criação, um dos principais meios de
interação do surdocego com outras pessoas. Ao interlocutor do surdocego basta
saber ler. Sabendo ler, pressionará as teclas normais da tellethouch como se
estivesse redigindo um texto escrito qualquer.
Tablitas: Fabricadas
em plástico sólido, representam em relevo as letras e os números ordinários,
assim como caracteres do sistema braille. As letras e os números estão
superpostos aos caracteres braille. O dedo da pessoa surdocega é levado de uma
letra/número a outra (o) ou de um caractere a outro, estabelecendo desta forma
a comunicação.
Diálogos: inclui uma
máquina braille/aparelho de escrita, uma máquina de escrever eletrônica, um
gravador e uma conexão telefônica. A pessoa surdocega escreve na máquina
braille. O texto é impresso no papel da máquina de escrever para a pessoa
vidente ler e vice-versa. As conversas podem ser estocadas na memória do
aparelho se assim for desejado. A pessoa que receber a conexão de telefone
precisa do “diálogo”, um tele-texto, uma impressora equipada com modem de um
computador.
Alfabeto
Dactilológico: Cada uma das letras do alfabeto corresponde a uma determinada
posição dos dedos da mão. Trata-se do alfabeto manual utilizado pelas pessoas
surdas. Apenas que neste caso está adaptada à versão tátil.
Letras de Forma: um
método verdadeiramente simples. A única condição necessária para que funcione é
que nosso interlocutor conheça as letras maiúsculas do alfabeto: As letras são
feitas na palma da mão, ou em qualquer outra parte do corpo do surdocego, uma
sobre a outra. O próprio dedo indicador do interlocutor ou o dedo do surdocego
é usado como caneta.
Tadoma: Quando
falamos em tadoma, estamos nos referindo ao método de vibração do ensino da
fala. A criança que está sendo ensinada no tadoma tem que colocar uma e
inicialmente as duas mãos na face da pessoa que está falando. Com bastante
treino e prática, a possibilidade de se comunicar através deste método tende a
ser grande.
Sistema Pictográfico: Os símbolos de comunicação pictóricos – Picture Communication Symbols (PCS) fazem parte de um Sistema de Comunicação Aumentativa (CAA) que se referem ao recurso, estratégias e técnicas que complementam modos de comunicação existentes ou substituem as habilidades de comunicação existentes. Em síntese, o sistema pictográfico consiste de símbolos, figuras, etc, que significam ações, objetos, atividades que entre outras características podem servir como símbolos comunicativos, tanto receptivamente quanto expressivamente.
Este post é uma adaptação do texto sobre legislação e documentos que embasam a Política de Educação Inclusiva no Brasil do site “Acessibilidade já!”
1988 – Constituição
da República Federativa do Brasil
Estabelece “promover
o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação” (art.3º inciso IV). Define, ainda, no artigo
205, a educação como um direito de todos, garantindo o pleno desenvolvimento da
pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho. No artigo
206, inciso I, estabelece a “igualdade de condições de acesso e permanência na
escola” como um dos princípios para o ensino e garante, como dever do Estado, a
oferta do atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede
regular de ensino (art. 208).
1989 – Lei nº
7.853/89
Dispõe sobre o apoio
às pessoas portadoras de deficiência e sua integração social. Define como crime
recusar, suspender, adiar, cancelar ou extinguir a matrícula de um estudante
por causa de sua deficiência, em qualquer curso ou nível de ensino, seja ele
público ou privado. A pena para o infrator pode variar de um a quatro anos de
prisão, mais multa.
1990 – Estatuto da
Criança e do Adolescente – Lei nº. 8.069/90
O artigo 55 reforça
os dispositivos legais supracitados ao determinar que “os pais ou responsáveis
têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de
ensino”.
1990 – Declaração
Mundial de Educação para Todos
Documentos
internacionais passam a influenciar a formulação das políticas públicas da
educação inclusiva.
1994 – Declaração de
Salamanca
Dispõe sobre
princípios, políticas e práticas na área das necessidades educacionais
especiais.
1994 – Política Nacional
de Educação Especial
Em movimento
contrário ao da inclusão, demarca retrocesso das políticas pública ao orientar
o processo de “integração instrucional” que condiciona o acesso às classes
comuns do ensino regular àqueles que “(…) possuem condições de acompanhar e
desenvolver as atividades curriculares programadas do ensino comum, no mesmo
ritmo que os alunos ditos normais”.
1996 – Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei nº 9.394/9
No artigo 59,
preconiza que os sistemas de ensino devem assegurar aos alunos currículo,
métodos, recursos e organização específicos para atender às suas necessidades;
assegura a terminalidade específica àqueles que não atingiram o nível exigido
para a conclusão do ensino fundamental em virtude de suas deficiências e; a
aceleração de estudos aos superdotados para conclusão do programa escolar.
Também define, dentre as normas para a organização da educação básica, a
“possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do
aprendizado” (art. 24, inciso V) e “(…) oportunidades educacionais apropriadas,
consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida
e de trabalho, mediante cursos e exames” (art. 37). Em seu trecho mais
controverso (art. 58 e seguintes), diz que “o atendimento educacional
especializado será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre
que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua
integração nas classes comuns do ensino regular”.
1999 – Decreto nº
3.298 que regulamenta a Lei nº 7.853/89
Dispõe sobre a
Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, define
a educação especial como uma modalidade transversal a todos os níveis e
modalidades de ensino, enfatizando a atuação complementar da educação especial
ao ensino regular.
2001 – Diretrizes
Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (Resolução CNE/CEB nº
2/2001)
Determinam que os
sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas
organizarem-se para o atendimento aos educandos com necessidades educacionais
especiais (art. 2º), o que contempla, portanto, o atendimento educacional
especializado complementar ou suplementar à escolarização. Porém, ao admitir a
possibilidade de substituir o ensino regular, acaba por não potencializar a
educação inclusiva prevista no seu artigo 2º.
2001 – Plano Nacional
de Educação – PNE, Lei nº 10.172/2001
Destaca que “o grande
avanço que a década da educação deveria produzir seria a construção de uma
escola inclusiva que garanta o atendimento à diversidade humana”.
2001 – Convenção da
Guatemala (1999), promulgada no Brasil pelo Decreto nº 3.956/2001
Afirma que as pessoas
com deficiência têm os mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais que as
demais pessoas, definindo como discriminação com base na deficiência toda
diferenciação ou exclusão que possa impedir ou anular o exercício dos direitos
humanos e de suas liberdades fundamentais.
2002 – Resolução
CNE/CP nº1/2002
Estabelece as
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação
Básica, define que as instituições de ensino superior devem prever em sua
organização curricular formação docente voltada para a atenção à diversidade e
que contemple conhecimentos sobre as especificidades dos alunos com necessidades
educacionais especiais
2002 – Lei nº
10.436/02
Reconhece a Língua
Brasileira de Sinais como meio legal de comunicação e expressão, determinando
que sejam garantidas formas institucionalizadas de apoiar seu uso e difusão,
bem como a inclusão da disciplina de Libras como parte integrante do currículo
nos cursos de formação de professores e de fonoaudiologia.
2003 – Portaria nº
2.678/02
Aprova diretriz e
normas para o uso, o ensino, a produção e a difusão do Sistema Braille em todas
as modalidades de ensino, compreendendo o projeto da Grafia Braile para a
Língua Portuguesa e a recomendação para o seu uso em todo o território
nacional.
2004 – Cartilha – O
Acesso de Alunos com Deficiência às Escolas e Classes Comuns da Rede Regular
O Ministério Público
Federal divulga o documento com o objetivo de disseminar os conceitos e
diretrizes mundiais para a inclusão.
2004 – Decreto nº
5.296/04
Regulamenta as leis
nº 10.048/00 e nº 10.098/00, estabelecendo normas e critérios para a promoção
da acessibilidade às pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida
(implementação do Programa Brasil Acessível).
2005 – Decreto nº
5.626/05
Regulamenta a Lei nº
10.436/02, visando à inclusão dos alunos surdos, dispõe sobre a inclusão da
Libras como disciplina curricular, a formação e a certificação de professor,
instrutor e tradutor/intérprete de Libras, o ensino da Língua Portuguesa como
segunda língua para alunos surdos e a organização da educação bilíngue no
ensino regular.
2006 – Plano Nacional
de Educação em Direitos Humanos
Lançado pela
Secretaria Especial dos Direitos Humanos, pelo Ministério da Educação, pelo
Ministério da Justiça e pela UNESCO. Objetiva, dentre as suas ações, fomentar,
no currículo da educação básica, as temáticas relativas às pessoas com deficiência
e desenvolver ações afirmativas que possibilitem inclusão, acesso e permanência
na educação superior.
2007 – Plano de
Desenvolvimento da Educação – PDE
Traz como eixos a
acessibilidade arquitetônica dos prédios escolares, a implantação de salas de
recursos multifuncionais e a formação docente para o atendimento educacional
especializado.
2007 – Decreto nº
6.094/07
Estabelece dentre as
diretrizes do Compromisso Todos pela Educação a garantia do acesso e
permanência no ensino regular e o atendimento às necessidades educacionais
especiais dos alunos, fortalecendo a inclusão educacional nas escolas públicas.
Estabelece dentre as
diretrizes do Compromisso Todos pela Educação a garantia do acesso e
permanência no ensino regular e o atendimento às necessidades educacionais
especiais dos alunos, fortalecendo a inclusão educacional nas escolas públicas.
2008 – Política
Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva
Traz as diretrizes
que fundamentam uma política pública voltada à inclusão escolar, consolidando o
movimento histórico brasileiro.
2009 – Convenção
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência
Aprovada pela ONU e
da qual o Brasil é signatário. Estabelece que os Estados Parte devem assegurar
um sistema de educação inclusiva em todos os níveis de ensino. Determina que as
pessoas com deficiência não sejam excluídas do sistema educacional geral e que
as crianças com deficiência não sejam excluídas do ensino fundamental gratuito
e compulsório; e que elas tenham acesso ao ensino fundamental inclusivo, de
qualidade e gratuito, em igualdade de condições com as demais pessoas na
comunidade em que vivem (Art.24).
2008 – Decreto nº
6.571
Dá diretrizes para o
estabelecimento do atendimento educacional especializado no sistema regular de
ensino (escolas públicas ou privadas).
2009 – Decreto nº
6.949
Promulga a Convenção
Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo
Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007. Esse decreto dá ao
texto da Convenção caráter de norma constitucional brasileira.
2009 – Resolução No.
4 CNE/CEB
Institui diretrizes
operacionais para o atendimento educacional especializado na Educação Básica,
que deve ser oferecido no turno inverso da escolarização, prioritariamente nas
salas de recursos multifuncionais da própria escola ou em outra escola de
ensino regular. O AEE pode ser realizado também em centros de atendimento
educacional especializado públicos e em instituições de caráter comunitário,
confessional ou filantrópico sem fins lucrativos conveniados com a Secretaria
de Educação (art.5º).
2011 – Plano Nacional
de Educação (PNE)
Projeto de lei ainda
em tramitação. A Meta 4 pretende “Universalizar, para a população de 4 a 17
anos, o atendimento escolar aos estudantes com deficiência, transtornos globais
do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na rede regular de
ensino.”. Dentre as estratégias, está garantir repasses duplos do Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação (FUNDEB) a estudantes incluídos; implantar mais salas
de recursos multifuncionais; fomentar a formação de professores de AEE; ampliar
a oferta do AEE; manter e aprofundar o programa nacional de acessibilidade nas
escolas públicas; promover a articulação entre o ensino regular e o AEE;
acompanhar e monitorar o acesso à escola de quem recebe o benefício de
prestação continuada.
2012 – Lei nº 12.764
Institui a Política
Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista;
e altera o § 3º do art. 98 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990.
Por tipo de
documentos:
LEIS
Constituição Federal
de 1988 – Educação Especial
Lei nº 9394/96 – Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBN
Lei nº 9394/96 – LDBN
– Educação Especial
Lei nº 8069/90 –
Estatuto da Criança e do Adolescente – Educação Especial
Lei nº 8069/90 –
Estatuto da Criança e do Adolescente
Lei nº 10.098/94 –
Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade
das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras
providências
Lei nº 10.436/02 –
Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras e dá outras providências
Lei nº 7.853/89 –
CORDE – Apoio às pessoas portadoras de deficiência
Lei Nº 8.859/94 –
Modifica dispositivos da Lei nº 6.494, de 7 de dezembro de 1977, estendendo aos
alunos de ensino especial o direito à participação em atividades de estágio
Lei nº 12.764 –
Institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno
do Espectro Autista; e altera o § 3º do art. 98 da Lei nº 8.112, de 11 de
dezembro de 1990.
DECRETOS
Decreto Nº 186/08 –
Aprova o texto da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e de
seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova Iorque, em 30 de março de 2007
Decreto nº 6.949 –
Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março
de 2007
Decreto Nº 6.094/07 –
Dispõe sobre a implementação do Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação
Decreto Nº 6.215/07 –
Institui o Comitê Gestor de Políticas de Inclusão das Pessoas com Deficiência –
CGPD
Decreto Nº 6.214/07 –
Regulamenta o benefício de prestação continuada da assistência social devido à
pessoa com deficiência
Decreto Nº 6.571/08 –
Dispõe sobre o atendimento educacional especializado
Decreto nº 5.626/05 –
Regulamenta a Lei 10.436 que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais –
LIBRAS
Decreto nº 2.208/97 –
Regulamenta Lei 9.394 que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional
Decreto nº 3.298/99 –
Regulamenta a Lei no 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre a Política
Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as
normas de proteção, e dá outras providências
Decreto nº 914/93 –
Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência
Decreto nº 2.264/97 –
Regulamenta a Lei nº 9.424/96
Decreto nº 3.076/99 –
Cria o CONADE
Decreto nº 3.691/00 –
Regulamenta a Lei nº 8.899/96
Decreto nº 3.952/01 –
Conselho Nacional de Combate à Discriminação
Decreto nº 5.296/04 –
Regulamenta as Leis n° 10.048 e 10.098 com ênfase na Promoção de Acessibilidade
Decreto nº 3.956/01 –
(Convenção da Guatemala) Promulga a Convenção Interamericana para a Eliminação
de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de
Deficiência.
PORTARIAS
Portaria nº 976/06 –
Critérios de acessibilidade os eventos do MEC
Portaria nº 1.793/94
– Dispõe sobre a necessidade de complementar os currículos de formação de
docentes e outros profissionais que interagem com portadores de necessidades
especiais e dá outras providências
Portaria nº 3.284/03
– Dispõe sobre requisitos de acessibilidade de pessoas portadoras de
deficiências, para instruir os processos de autorização e de reconhecimento de
cursos, e de credenciamento de instituições
Portaria nº 319/99 –
Institui no Ministério da Educação, vinculada à Secretaria de Educação
Especial/SEESP a Comissão Brasileira do Braille, de caráter permanente Portaria
nº 554/00 – Aprova o Regulamento Interno da Comissão Brasileira do Braille
Portaria nº 8/01 –
Estágios
RESOLUÇÕES
Resolução nº4 CNE/CEB
Resolução CNE/CP nº
1/02 – Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores
Resolução CNE/CEB nº
2/01 – Normal 0 21 Institui Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na
Educação Básica
Resolução CNE/CP nº
2/02 – Institui a duração e a carga horária de cursos
Resolução nº 02/81 –
Prazo de conclusão do curso de graduação
Resolução nº 05/87 –
Altera a redação do Art. 1º da Resolução nº 2/81
CAPÍTULO I – Dos Direitos e
Deveres Individuais e Coletivos
Art.
3º. Constituem objetivos
fundamentais da República Federativa do Brasil:
(…) IV – promover o bem
de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação.
Art.
5º. Todos são iguais perante a
lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes
CAPÍTULO
II – Dos Direitos Sociais
(…)
Art.
7º. São direitos dos trabalhadores
urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:
(…) XXXI- proibição de
qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do
trabalhador portador de deficiência.
TÍTULO
III – Da Organização do Estado
APÍTULO II – DA UNIÃO
(…)
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios:
(…) II – cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia
das pessoas portadoras de deficiência;
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre:
(…) XIV – proteção e integração social das pessoas portadoras de
deficiência.
CAPÍTULO VII – Da administração
Pública
SEÇÃO I – Disposições Gerais
Art. 37. A administração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá
aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e,
também, ao seguinte:
(…) VIII – a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para
as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão.
TÍTULO VIII – Da Ordem Social
CAPÍTULO II – Da Seguridade Social
SEÇÃO IV – Da assistência Social
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar,
independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
(…) IV – a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de
deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária;
V – a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa
portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a
própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a
lei.
CAPÍTULO III – Da Educação, da
Cultura e do Desporto
SEÇÃO I – Da Educação
(…)
Art.
208. O dever do estado com a
educação será efetivado mediante a garantia de:
(…) III – atendimento
educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na
rede regular de ensino;
IV – acesso aos níveis mais
elevados de ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de
cada um.
CAPÍTULO
VII – Da Família, da Criança, do Adolescente e do Idoso
(…)
Art.
227. É dever da família, da
sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta
prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
§1º- O Estado promoverá
programas de assistência integral à saúde da criança e do adolescente, admitida
a participação de entidades não governamentais e obedecendo os seguintes
preceitos:
(…) II – criação de programas
de prevenção e atendimento especializado para os portadores de deficiência
física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente
portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a
convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a
eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos.
(…) §2º- A lei disporá sobre
normas de construção de logradouros e edifícios de uso público e de fabricação
de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir o acesso adequado às
pessoas portadoras de deficiência.
TÍTULO
IX – Das Disposições Constitucionais Gerais
(…)
Art.
244. A lei disporá sobre a adaptação
dos logradouros, dos edifícios de uso público e dos veículos de transporte coletivo
atualmente existentes a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras
de deficiência, conforme o disposto no art. 227, 2º.
a
Constituição de 1988 inaugurou um princípio de proteção. Avançou bastante com a
questão da acessibilidade, por exemplo. Isso possibilitou à legislação
infraconstitucional a tutela da acessibilidade, que afeta tanto idosos quanto
pessoas com deficiência. Além disso, a CF-88 legou ao Ministério Público o
papel de defensor dessas parcelas da população, quando deu ao MP um importante
papel na defesa dos interesses individuais e coletivos. A partir da nova
Constituição, surgiu a Lei 7.853/89, sobre os direitos das pessoas com
deficiência; mais tarde, criou-se a Política Nacional do Idoso e, depois, o
Estatuto do Idoso.
Na
área da pessoa com deficiência, possibilitou a elaboração da Lei Brasileira de
Inclusão. A Constituição de 1988 assimilou inteiramente, com status
constitucional, a Convenção Internacional da Pessoa com Deficiência, que se harmoniza
perfeitamente com a Constituição, a partir da qual foi possível elaborar
mecanismos legais mais efetivos na defesa dos direitos dessas pessoas.
O projeto social Resista como uma mulher cega, que desenvolve trabalhos e atividades em defesa de direitos sociais individuais e coletivos por meio de palestras, oficinas e formações, em comunidades, associações, movimentos sociais, etc., de modo gratuito, agradece a empresa Vina Moda Confecções, localizada na rua Santa Quitéria, Jardim Eldorado, São Luís-MA, pela doação de vinte camisetas. Esta foi muito importante para o trabalho que estamos realizando nesse semestre que é disponibilizar informação e conhecimento de maneira acessível para pessoas com deficiência visual e auditiva em nosso site. Agradecemos-lhe pelo gesto nobre.
Seja você também um colaborador do nosso projeto! Siga nossa página no Twitter, no facebook, no Tumblr ou no Instagram ou entre em contato conosco pelo E-mail: resistacomoumamulhercega@gmail.com
Lembrem-se, para que nosso país seja próspero e inclusivo depende da participação de todos.
Descrição da imagem: Eu, vestida com uma camiseta amarela com a frase resista como uma mulher cega e uma calça bege, segurando minha bengala de alumínio na mão esquerda e usando um óculo escuro.
Divulgação das camiseta numa Palestra realizada no dia 13.05.2019 sobre violência sexual contra criança e adolescente com deficiência. Divulgação das camiseta numa Palestra realizada no dia 13.05.2019 sobre violência sexual contra criança e adolescente com deficiência. Divulgação das camiseta numa Palestra realizada no dia 13.05.2019 sobre violência sexual contra criança e adolescente com deficiência. Divulgação das camiseta numa Palestra realizada no dia 13.05.2019 sobre violência sexual contra criança e adolescente com deficiência. Divulgação das camiseta numa Palestra realizada no dia 13.05.2019 sobre violência sexual contra criança e adolescente com deficiência. Divulgação das camiseta numa Palestra realizada no dia 13.05.2019 sobre violência sexual contra criança e adolescente com deficiência.
No início do século
XX, após as duas grandes guerras e do avanço da industrialização e dos meios de
comunicação de massa o termo utilizado era os incapacitados, traduzido como indivíduos
sem capacidade, posteriormente, as “pessoas incapacitadas” passaram a serem identificadas
pelo termo capacidade residual.
Mas, os termos não
param por aí, com o passar dos anos, pessoas com algum tipo de deficiência
passaram a ser chamados de inválidos, minorados, impedidos, descapacitados, excepcionais.
Em 1962, teve início
nos Estados Unidos um movimento pelos direitos das pessoas com deficiência, o
que resultou na criação do primeiro Centro de Vida Independente do todo o mundo. Essa mobilização
alcançou o Brasil e resultou a inserção na Constituição brasileira de 1967, a
partir da Emenda Constitucional No 1/1969, o uso do
termo “deficiente”, que garantia acesso aos espaços públicos e proibia preconceitos
e discriminações.
Em 1988, com a
promulgação da Constituição Brasileira o termo deficiente mudou, passando a ser
chamado de pessoa portadora de deficiência.
A Convenção sobre os
Direitos das Pessoas com Deficiência destaca em seu preâmbulo que, “a
deficiência resulta da interação entre pessoas com deficiência e as barreiras atitudinais
e ambientais que impedem sua plena e efetiva participação na sociedade em
igualdade de oportunidades com as demais pessoas”.
Portanto, uma pessoa
não é portadora de uma deficiência, mas, esta resulta das barreiras do ambiente
físico e social. Com esta concepção se denominou o termo “pessoa com
deficiência”.
O termo oficial atual é o definido pela Lei No 13.146, de 6 de julho de 2015, conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, que considera pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.
A Classificação Internacional da
Funcionalidade, Incapacidade e Saúde –CIF, é adotada como norma
internacional para descrever e avaliar a saúde e as deficiências das pessoas.
No Brasil, as
diferentes formas de deficiência estão consideradas no Decreto No 5.296/2004:
Deficiência física:
“alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano,
acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de
paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia,
triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência
de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou
adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades
para o desempenho de funções”.
Deficiência auditiva:
“perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais,
aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz”.
Deficiência visual:
“cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho,
com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual
entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos
quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou
menor que 60o; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições
anteriores”.
Deficiência
intelectual: “funcionamento intelectual significativamente inferior à média,
com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais
áreas de habilidades adaptativas, tais como: 1. comunicação; 2. cuidado
pessoal; 3. habilidades sociais; 4. utilização dos recursos da comunidade; 5.
saúde e segurança; 6. habilidades acadêmicas; 7. lazer; e 8. trabalho”.
Deficiência múltipla: associação de duas ou mais deficiências.
Pessoa com
Deficiência: é aquela que têm impedimentos de longo prazo de natureza física,
mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas
barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em
igualdades de condições com as demais pessoas.
Barreiras: são
obstáculos visíveis ou invisíveis, no ambiente ou na atitude, que impedem a
plena e efetiva participação dessas pessoas na sociedade, em igualdade de
oportunidades com as demais pessoas. Qualquer entrave que limite ou impeça o
acesso, a liberdade de movimento, a circulação com segurança e a possibilidade
de as pessoas se comunicarem ou terem acesso à informação.
Acessibilidade: condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida.
A imagem a cima mostra a logomarca da acessibilidade, criada pelo Departamento de Informações Públicas da Organização das Nações Unidas – ONU. Descrição da imagem: uma figura simétrica conectada por quatro pontos a um círculo, azul, representando a harmonia entre o ser humano e a sociedade, e com os braços abertos, simbolizando a inclusão de pessoas com todas as habilidades, em todos os lugares.
Adaptação razoável: são modificações e os ajustes necessários e adequados que não acarretem ônus desproporcional ou indevido, quando requeridos em cada caso, a fim de assegurar que as pessoas com deficiência possam gozar ou exercer, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, todos os direitos humanos e liberdades fundamentais.
Tecnologias assistivas:
são produtos, instrumentos, equipamentos ou tecnologia adaptados ou especialmente
projetados para melhorar a funcionalidade da pessoa com deficiência ou
mobilidade reduzida, favorecendo a autonomia pessoal, total ou assistida.
Também são denominadas como ajudas técnicas. Incluem também os cães-guia.
Desenho Universal: é
a concepção de produtos, ambientes, programas e serviços a serem usados, na
maior medida possível, por todas as pessoas, sem necessidade de adaptação ou
projeto específico. O Desenho Universal não exclui as ajudas técnicas para
grupos específicos de pessoas com deficiência, quando necessárias.
Discriminação por
motivo de deficiência: é qualquer diferenciação, exclusão ou restrição baseada
em deficiência, com o propósito ou efeito de impedir ou impossibilitar o reconhecimento,
o desfrute ou o exercício, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas,
de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais nos âmbitos político,
econômico, social, cultural, civil ou qualquer outro. Abrange todas as formas
de discriminação, inclusive a recusa de adaptação razoável.
Pessoa com mobilidade
reduzida: é aquela que, não se enquadrando no conceito de pessoa com
deficiência, tenha, por qualquer motivo, dificuldade de movimentar-se,
permanente ou temporariamente, gerando redução efetiva da mobilidade,
flexibilidade, coordenação motora e percepção. São pessoas com idade igual ou
superior a sessenta anos, gestantes, lactantes e pessoas com criança de colo,
entre outras.
Rota acessível: trajeto
contínuo, desobstruído e sinalizado, que conecta os ambientes externos ou
internos de espaços e edificações, e que possa ser utilizado de forma autônoma
e segura por todas as pessoas, inclusive aquelas com deficiência. A rota
acessível externa pode incorporar estacionamentos, calçadas rebaixadas, faixas
de travessia de pedestres, rampas. A rota acessível interna pode incorporar
corredores, pisos, rampas, escadas, elevadores.
O ministro da educação Abraham Weintraub falou esta semana durante uma
audiência na Comissão de Educação no Senado que o foco do governo Bolsonaro
será a educação básica, uma educação técnica, baseada em entrega de resultados
e reconhecimento por mérito.
Como o governo vai centrar seu foco na educação básica se o MEC
bloqueou R$ 914 milhões em políticas específicas para seu desenvolvimento. Somente
do programa de apoio à infraestrutura de escolas do ensino básico, foram
congelados R$ 273,3 milhões, cerca de 30% do total destinado, as creches e
pré-escolas tiveram cortes de R$ 15 milhões. A alfabetização de jovens e
adultos tiveram cortes de R$ 14 milhões dos R$ 34 milhões previstos no
orçamento e a educação profissionalizante tão defendida pelo governo sofreu
cortes de 25% do total de R$ 40 milhões. Os institutos federais sofreram cortes
de R$ 860,4 milhões dos cerca de R$ 2,6 bilhões de orçamento discricionário?
Esses valores foram levantados pela Consultoria de Orçamento da Câmara dos
Deputados e estão disponíveis no site da câmara e do senado federal.
Esses dados mostram que a justificativa que o ministro da educação
utiliza para defender os cortes nas instituições de ensino federais são falsas.
Recentemente, o MEC bloqueou 30% do orçamento da UFBA, UFF e da UNB, os
motivos apresentados pelo ministro da educação foi que essas universidades
utilizavam as verbas para balbúrdia. Após, críticas, o MEC alterou a medida
bloqueando 30% das verbas em todas as instituições de ensino federais e a Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que financia programas
de pós-graduação, perdeu R$ 819,3 milhões do total de R$ 4,1 bilhões da verba.
Portanto, o principal motivo para o corte de verbas é o caráter
político-ideológico do atual governo, que é avesso a todo e qualquer princípio
democrático. Esse caráter, antidemocrático, discriminatório e excludente
constituí as principais metas do governo Bolsonaro, no que se refere a
educação, como por exemplo, Gestão técnica orientada à entrega de resultados, Construção
de um sistema educacional nacional orientado pelo mérito e para o mérito, Fixação
de incentivos para a adoção das melhores práticas nacionais e internacionais em
gestão da educação, Disciplina, ordem, respeito a todos no espaço da educação
público e privados, Investimento em capital humano para aumentar a
competitividade da economia brasileira.
Vale lembra que, o Fies e o Prouni, programas nacionais de educação que
constitui a política de expansão do ensino superior, proporcionaram a milhares
de pessoas que historicamente sempre estiveram em condições de desigualdades
sociais e econômicas, a oportunidade de concluírem um curso superior e com isso,
conseguirem melhores empregos, realizarem pesquisas, participarem de forma
plena na sociedade, contribuindo para a redução das desigualdades.
As diretrizes da educação brasileira apresentada pelo governo terão princípios autoritários nunca visto no país. Será proibido pensar e agir democraticamente e uma educação em poucas pessoas terão acesso.
No dia 07 deste mês o ministro da educação Abraham Weintraub afirmou
durante uma audiência na Comissão de Educação no Senado que não haverá corte no
orçamento das universidades e instituições de ensino federais, mas, sim um
contingenciamento e assim, que for aprovada a reforma da previdência e a
economia do país voltar a crescer o
recurso para a educação voltará.
A afirmação do ministro reforça as pressões e ameaças do governo em convencer os brasileiros sobre a necessidade da reforma da previdência. Sendo que, a justificativa de que existe um déficit da previdência é contestada a muito tempo pela Associação Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal, advogados previdenciários, pesquisadores e pelo relatório do senado que afirma não existir um déficit na previdência. Esse relatório afirma que, o que há de fato é um superávit e grandes devedores que não são cobrados pela Procuradoria da Fazenda Nacional. Leia o relatório do senado completo no link abaixo.
Não é de hoje que há inúmeras pesquisas que mostram que a reforma da
previdência defendida pelo governo, beneficia somente banqueiros, empresários e
ruralistas, que além de terem dívidas gigantescas perdoadas são os principais
agentes responsáveis pelo aumento da desigualdade social no país.
Os defensores da reforma da previdência e apoiadores do governo
Bolsonaro atacam a educação pública, principalmente, universidades e institutos
federais, porque a educação é a principal ferramenta contra o autoritarismo, a
intolerância e a favor da democracia e ao combate às desigualdades sociais.
Uma sociedade que tem acesso à educação é uma sociedade crítica, contestadora e defensora dos direitos sociais, da tolerância, da paz e preocupada em combater as desigualdades. É uma sociedade que dialoga, produz e divulga conhecimento. São essas as características que o atual governo quer impedir que a sociedade brasileira alcance.
A educação gratuita é um direito que deve ser garantido a todas as
pessoas, é uma das principais ferramentas para o combate da desigualdade social
e uma das principais características de um governo verdadeiramente democrático.
A Declaração Universal dos direitos humanos em seu artigo 26 determina
que o direito à educação deve se vincular a três objetivos específicos: (1)
pleno desenvolvimento da personalidade humana e fortalecimento do respeito aos
direitos do ser humano e às liberdades fundamentais; (2) promoção da
compreensão, da tolerância e da amizade entre todas as nações e a todos os
grupos raciais e religiosos; (3) incentivo às atividades da ONU para a
manutenção da paz.
Portanto, a educação é um direito social inalienável. Desde que
Bolsonaro assumiu a presidência do Brasil a educação tem sido um dos principais
alvos de desmonte, recursos financeiros congelados, universidades, docentes,
discentes, pesquisadores (as), reitores e profissionais da educação e todas as
pessoas que defendem uma educação democrática, crítica, igualitária e para
todos têm sidos perseguidos e ameaçados.
A atual gestão, foi construída a partir de um discurso de ódio,
intolerância e discriminação, semelhante aos que Alexandr Pavlov, um dos
idealizadores da Declaração Universal dos Direitos Humanos afirmou ser um dos
principais fatores para o desenvolvimento do fascismo e do nazismo.
As ações do atual governo são todas voltadas para a destruição de
direitos sociais básicos como a saúde, a educação e o direito à terra. Por
outro lado, o governo, cria medidas que garantam a posse de armas inclusive
para menores de idade.
Vale lembrar que, o Brasil é um dos países do mundo mais violento para
as mulheres, povo negro, indígenas, ativistas ambientais, trabalhadores rurais,
quilombolas, população LGBT, etc. Os militares do Brasil, são os que mais matam
no mundo segundo pesquisas da OAB (2019). O Brasil é o país do mundo que mais
mata com armas de fogo segundo pesquisas da Associação Americana de Medicina
(2019).
Portanto, a política do atual governo brasileiro, quer garantir que
todo brasileiro não tenha acesso à educação, não pense criticamente, não participe
de tomadas de decisões, que seja, ignorante, intolerante, mas, que tenham até
quatro ARMAS de FOGO.
Assim, o objetivo principal dessa política é garantir que a população dê continuidade à política de dizimação social que está sendo posta em prática, essencialmente, pelos militares, desde que Bolsonaro assumiu a presidência.
Pessoas como eu, que são chamadas de minorias sociais, por estarem em
condições de desigualdade com uma parcela da sociedade, é provável, que nunca
conseguissem concluir um curso de graduação e pós-graduação se não existisse
universidade públicas e os programas de permanência na universidade criados
pelo governo federal.
Nasci, num povoado de Maranhãozinho, um lugar de difícil acesso, não
havia posto médico e existia apenas uma escola multiseriada, onde estudavam
crianças, jovens e adultos, todos na mesma sala, meus pais eram lavradores, em
razão da minha deficiência, eu quase nunca saía de casa, e, para passar o tempo,
meus pais e meus familiares me davam livros, muitos, já estavam envelhecidos e
frágeis, na minha casa não tinha
televisão e nem uma radiola, a única diversão que eu tinha era ler esses livros
com uma lupa, que também, já estava muito gasta devido ao tempo de uso. Outras
vezes, meus familiares faziam leituras para mim, com o tempo aprendi a
escrever, mesmo sem poder enxergar bem, aprendi a desenhar e a recitar poesias.
O sonho do meu pai era um dia me ver na universidade, apesar, de saber
que minhas chances seriam poucas, afinal, além da nossa situação econômica ruim
e da distância do lugar que nós morávamos eu não enxergava.
O sonho dos meus pais, minha esperança e fé de viver dias melhores e
muito, mais muito estudo, consegui ingressar na Universidade Federal do
Maranhão, devido minha situação econômica, só pude concluir o curso de
graduação que escolhi, porque recebi bolsas.
Na graduação morei na casa de estudante da UFMA, não paguei aluguel, água,
luz e gás de cozinha. Ganhei bolsa alimentação (refeições gratuitas no RU). Fui
bolsista estagiária no Campus. Fui bolsista em grupo de pesquisa. Quando
terminei a graduação, ingressei na Pós-Graduação, fui bolsista da Capes.
Desenvolvi pesquisas, participei de eventos e como parte do meu compromisso
social, engajei-me em lutas sociais.
Na universidade aprendi a pensar e agir como um ser humano crítico e consciente, pautado no respeito a diversidade e pluralidade de ideias, condições e princípios. Conheci e assume, meu lugar no mundo com uma responsabilidade social e humana.
Em meus trinta e uns anos de
idade, já vivenciei e ouvi inúmeros relatos de violência. Mas, nunca ouvi falar
num evento realizado no Brasil que abordasse essa temática e que tivesse como
objetivo criar políticas públicas, programas e campanhas de prevenção e combate
à violência sexual contra crianças com deficiência.
Violência sexual contra
crianças com deficiência são crimes corriqueiros no Brasil e acontecem
predominantemente no âmbito familiar e doméstico. Esses crimes estão
associados a fatores de risco decorrentes do aumento da desigualdade social, da
pobreza extrema, desigualdade de gênero, doenças, etc.
Raramente os agressores são
punidos e em todos os casos, as vítimas se tornam pessoas adultas sem
compreender o que é sexualidade, relações sexuais, sem conhecer seu próprio
corpo e com uma série de problemas psicológicos.
O combate à violência contra crianças com
deficiência exige do Estado a obrigação de criar políticas públicas que
amenizem as desigualdades econômicas, sociais, e de gênero e que ofereça educação
de qualidade, específica, diferenciada e inclusiva, que ofereça assistência à
saúde e reabilitação, arte e cultura, etc., para que as crianças com deficiência
possam ter uma vida sem violência.
É sempre bom lembrar que é indispensável a
participação de todos os brasileiros no trabalho de prevenção e combate à
violência contra a criança com deficiência. Afinal, a Constituição de 1988, o
ECA e o Estatuto da Pessoa com Deficiência dizem que a obrigação de cuidar e
proteger das pessoas com deficiência é da família, do Estado e da sociedade
civil.
Portanto, arregace a manga da sua camisa e
levante a bandeira do combate à violência contra criança com deficiência!
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Um estudo realizado pelo Fórum Africano de Políticas para Crianças sobre violência contra crianças com
deficiência mostra que crianças com deficiência têm quatro vezes mais possibilidade
de sofrerem violência sexual e as meninas são as mais vulneráveis.
Infelizmente, não encontrei dados oficiais e confiáveis sobre violência sexual contra
crianças com deficiência no Brasil.
Penso que, violência sexual
contra crianças com deficiência, é um tema ignorado por pesquisadores, gestores
e pela sociedade civil. Decidi fazer uma pequena pesquisa de campo, nessa
semana, somente para ter uma ideia do quanto a violência sexual contra crianças
com deficiência é corriqueira e o agressor é impune.
Perguntei para sete pessoas
com deficiência se já haviam sofrido violência sexual na infância. Todas me
responderam que sim. Todas me afirmaram que não denunciaram. Todas me afirmaram
que ainda tem contato com o agressor. Dessas sete pessoas, cinco são mulheres, relataram-me
que familiares ou sabiam ou suspeitavam dos abusos, mas, preferiram ficar em
silêncio.
Muitos casos de violência sexual contra crianças
com deficiência não são denunciados, porque, o agressor é um familiar ou educadores,
colegas, vizinhos, familiares, prestadores de serviços, membros de igrejas, etc.
Essas violências assumem muitas formas, bullying, castigo físico, tratamentos
violentos, como por exemplo, amarrar a criança numa cadeira ou na cama, trancar
a criança num ambiente escuro, isolamento social, má alimentação, etc. No caso
das meninas, a principal violência é o estupro, assédio e esterilização
forçada.
As crianças com deficiência vítimas de
violência, em específico, de violência sexual, raramente são percebidas socialmente.
Mudanças no comportamento de crianças com
deficiência tendem a serem vistas por familiares e pela sociedade em geral,
como decorrentes da deficiência. Por exemplo, quando crianças surdas, não participam
de brincadeiras, trabalhos, jogos, etc., na escola, professores e educadores
julgam que tal comportamento é decorrente da dificuldade de comunicação da
criança surda com as crianças ouvintes. Situação semelhante, acontece com crianças
cegas, que muitas vezes, são vistas como dependentes, sempre precisando de
ajuda. Situação mais grave, são as crianças com deficiência mental, a sociedade
tende a julgar todo seu comportamento em razão da sua deficiência.
Crianças com deficiência são antes de tudo, crianças,
e, como toda criança gostam de brincar, sorrir e viver em sociedade. O
isolamento social, crises de choro, medo, comportamento agressivos, timidez excessiva,
são sinais de que a criança com deficiência pode estar sofrendo violência
sexual.
Lembre-se a obrigação de cuidar e proteger
das crianças com deficiência é sua também! Afinal, a Constituição de 1988, o
ECA e o Estatuto da Pessoa com Deficiência dizem que a obrigação de cuidar e
proteger as pessoas com deficiência, a criança e o adolescente é da família, do
Estado e da sociedade civil.
Fique atento! Arregace a manga da camisa e
levante a bandeira do combate à violência sexual contra criança com
deficiência!
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Descrição da imagem: Simbolo da infância, consiste numa imagem com fundo branco e o desenho estilizado de uma menina e um menino na frente de sol amarelo.