TRILHAS E MEANDROS DA LUZ NA ESCURIDÃO

Este será o primeiro de cinco post que falarei sobre “uma proposta metodológica inclusiva” que desenvolvi ao longo de algumas trilhas da minha trajetória acadêmica e profissional.

Quando ingressei no Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas na UFMA, estava num processo de perda de visão agressivo e dolorido. Sentia fortes dores e inflamações nos olhos, enxaqueca, dores de ouvido e a minha mobilidade estava extremamente comprometida.

Diariamente, meu esposo me levava para assistir aula. Chegávamos cedo, para que ele pudesse me ensinar andar sozinha no prédio em que estudava. O objetivo disso, era melhorar minha mobilidade no curso e na universidade. Durante as aulas, minhas dificuldades eram imensas, não conseguia acompanhar as leituras e nem as discussões em sala. Os recursos que facilitavam meus estudos, que eu tinha em casa, eram insuficientes. Em razão disso, busquei outras estratégias. Primeiramente, pedi um vídeo ampliador na coordenação do curso, o que foi me concedido cerca de dois meses depois. Meu direito de uso desse equipamento era somente nas dependências do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas.

Assim, eu tinha apenas um turno para usar o vídeo ampliador, porque, em outro turno eu estava em sala de aula. O resultado é que eu nunca conseguia fazer todas as leituras necessárias. Pedi aos professores e professoras que disponibilizassem a ementa da disciplina com antecedência, mas, muitos esqueciam e não me enviavam. Passei a pedir na coordenação mas, na maioria das vezes não me enviavam, ou enviavam um documento em formato de imagem, no qual eu não conseguia ler. Comecei a gravar as aulas, mas, nessa época, a sensibilidade da minha audição prejudicava o entendimento de alguns sons, principalmente, da voz humana.

Percebi que todas as estratégias que havia criado para facilitar meus estudos e garantir minha permanência no curso fracassaram ao ponto de pensar que a única solução racional e viável seria o trancamento ou abandono. Porém, resisti buscando permanecer no curso.

Percebi que seria necessário criar estratégias que me adequassem ao jogo social realizado na universidade. Estava explícito que eu era a figura “aversa” em relação aos agentes que estavam inseridos nesse jogo. Meu processo de produção científica era extremamente diferente dos deles. Além disso, existiam enormes barreiras físicas e emocionais pelo fato de eu não enxergar. O fato de procurar estratégias para me inserir nesse jogo, não significa que eu decidi seguir todas as regras ou participar das mesmas disputas que os demais participantes, pois, no meu caso, isto seria impossível, porque, “naturalmente”, eu já estava numa condição de extrema desigualdade de condição. Porém, procurei em alguns momentos fazer o jogo duplo, agindo de acordo com meus interesses ao mesmo tempo que mantinha as aparências de obediência às regras. Bourdieu (2004, p. 81) chama “jogo duplo”, a estratégia que permite produzir uma infinidade de lances possibilitados pelo jogo.

Decidi falar sobre minhas limitações e sobre minha deficiência. No momento em que falava, algumas pessoas demonstravam compaixão e me auxiliavam principalmente, na mobilidade, só que este auxílio ocorria somente no momento em que havia terminado de falar das minhas limitações. Diariamente, ouvia falas e vivenciava atitudes que intensificavam minha exclusão no curso e na própria universidade.

Posteriormente, várias pessoas que estudaram comigo no mestrado me falaram que no decorrer do curso evitaram se aproximar de mim com medo de se tornarem minhas guias. Outras me relataram que não sabiam como falar comigo, porque tinham medo e pena de mim, imaginavam que no meu dia a dia eu dependeria totalmente de uma pessoa vidente, etc.

No post seguinte falarei sobre exclusão no ambiente acadêmico e como consegui agir para vencer inúmeras barreiras atitudinais, sociais e comunicacionais.

REFERÊNCIAS

BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Lisboa: Difel, 1989.

BOURDIEU, Pierre. Coisas ditas. São Paulo. Brasiliense, 2004.

BOURDIEU, Pierre.Meditações Pascalianas. Rio de Janeiro. Bertand, 2007.

BOURDIEU, Pierre. PASSERON, Jean-Claude. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. Covilhã, Lusofia, 2009.

CORDEIRO, Zeneide Pereira. Os awá e o mundo dos karaiw. (Dissertação de mestrado). Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas – UFMA, São Luís, 2019.

CUNHA, Olívia Maria Gomes da. Tempo imperfeito: uma etnografia do arquivo. MANA 10(2):287-322, 2004.

GOMES, Mércio Pereira. Os índios e o Brasil: passado, presente e futuro. São Paulo: Contexto, 2012.

HERNANDO, Almudena et al. História recente e situação atual dos Awá-Guajá. In. HERNANDO, Almudena; COELHO, M. E. B. (Org.). Estudos sobre os Awá caçadores-coletores em transição. EDUFMA. São Luís, 2013.

MONSERRAT, Ruth Maria Fonini. Línguas indígenas no Brasil contemporâneo. In: GRUPIONE, Luís Donisete Benzi (org.). Índios no Brasil. Brasília, ministério da Educação e Desporto, 1994.

MORENO, Alejandro. Superar a exclusão, conquistar a equidade: reformas, políticas e capacidades no âmbito social. CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales. Buenos Aires, 2005.

OLIVEIRA, João Pacheco de. Uma etnologia dos “índios misturados”? Situação colonial, territorialização e fluxos culturais. MANA 4(1):47-77, 1998.


A PROFESSORA É CEGA?

No dia 31 de agosto finalmente iniciei meu trabalho em sala de aula. Aproveitei para falar sobre formas de avaliação e a didática das aulas. Demonstrei todo meu respeito e sinceridade diante da turma, pedi a colaboração de tod@s, para que a nossa experiência em sala de aula fosse produtiva e feliz.

Respondi perguntas sobre minha vida pessoal, alguns estudantes, tinham curiosidade de ver meus olhos e, é claro que eu mostrei, falei também, da minha formação acadêmica, do lugar em que nasci. O mais interessante de tudo neste momento foi que nós combinamos formas de diálogo durante as aulas, frequência e tipos de atividades.

No primeiro dia de aula, solicitei em cada turma, que fosse criado um grupo de Whatsapp, pois, é através dele, que faço a lista de frequência e mantenho o controle de atividades e pontuação de cada estudante. Aproveito todos os momentos para falar sobre a importância da acessibilidade para que eu consiga ministrar as aulas.

Até o momento, em todas as turmas que estou trabalhando, estou recebendo muita colaboração e já conheço muitos dos meus alunos e alunas pela voz ou pelos movimentos corporais.

Todos tem demostrado compreenderem a importância do silencio, no momento em que eu falo ou quando um colega fala. Todos percebem o quanto é importante a organização da turma para que eu possa me localizar no espaço e conhecer as pessoas.

Durante nossas aulas, acontecem situações extremamente engraçadas e assustadoras para os alunos, por exemplo, numa das minhas turmas de sexta feira, enquanto, eu estava explicando o conteúdo da aula, havia uma aluna, no final da sala ouvindo música com um fone. Aí, dei uma pausa na aula e identifiquei o local em que ela estava sentada e olhando na direção dela disse com um tom de voz calmo e gentil: você pode ouvir esta música em outro momento, o som está muito alto e está prejudicando meu raciocínio. A aluna tirou o fone do ouvido e ficou em silêncio, fez diversos gestos horrorizada, tentando entender como eu sabia que ela estava com fone no ouvido. Geralmente, meus alunos e minhas alunas, ficam assustados, mas, demonstram gostarem, quando eu passo por eles num dos corredores da escola e falo seu nome. Em diversos momentos ouço sussurros de estudantes falando, é incrível como ela conhece a gente, como será que ela faz isso?

Ainda não sei quais são as percepções e compreensões dos meus alunos e alunas sobre mim e também, ainda não sei quais são minhas percepções e compreensões sobre eles e sobre todas as pessoas que trabalham nessa escola. O que sei é que esta experiência de trabalho está sendo muito produtiva, sincera e feliz!.

Não sou todo mundo!

Olá! Esse post é um desabafo de frases preconceituosas que ouço diariamente no meu trabalho. Esta semana, decidi falar para várias pessoas o quanto as frases delas são preconceituosas e doentias, mas, de nada adiantou. As mais corriqueiras são:

–  Ah professora! Todo mundo tem que entregar impresso.

– Só que eu não sou todo mundo.

– A senhora tá usando o livro? Tem que usar.

– Não, não uso nenhum recurso de papel. Ah! Também não uso lápis, caneta, quadro, pincel, borracha, etc.

­­– Como a senhora controla os alunos?

– Não estou aqui para controlar alunos, mas, sim para ministrar aulas, é para isso que o estado me paga.

– Esse é o padrão das aulas!

– Minhas aulas não seguem este padrão, porque, eu não sou uma professora padrão.

– Essa é a regra de todas as escolas!

– Uma regra totalmente inacessível que precisa ser adaptada

– Olhe professora é assim que eu faço é assim o correto!

– Ok. Legal sua forma de trabalhar.

– Se a senhora quiser posso lhe dar umas dicas!

– Obrigada.

– Professora a senhora quer que eu vá nas salas para pedir que os alunos se comportem?

– Como? Essa proposta foi a mais inusitada que recebi.

– Quem está ficando na sala com a senhora professora?

– Os alunos e as alunas.

– Quais são os limites que a senhora impôs para a turma?

– Desculpe, não trabalho com essa categoria.

– Os alunos perguntam sobre seu problema?

– Não, meus alunos não sabem quais são meus problemas.

– A senhora já entregou seu planejamento mensal?

– Enviei por E-mail.

Essa é a professora? E ela é cega?

No final de junho deste ano fui aprovada num seletivo para ministrar aulas de Arte na rede pública de ensino do Maranhão.

Quando decidi que queria ser professora do ensino médio, sabia que enfrentaria diversos tipos de situações boas e ruins. Por isso, planejei cada passo do meu trabalho, inclusive, prevendo situações que poderiam ocorrer sem estarem previstas. Criei uma metodologia específica para ensinar Arte e tracei estratégias de convivência social.

No meu primeiro dia na escola fui muito bem recebida pela gestora e por todos os profissionais. Imediatamente, percebi olhares e cochichos curiosos. Algumas pessoas pareciam estarem anestesiadas, talvez, por uma multiplicidade de sentimentos, medo, admiração, preconceitos, carinho…  Afinal, não é todo dia que se ver uma professora cega!

Ouvi a voz de uma aluna perguntando para uma senhora se eu era a nova professora de Arte. Ela respondeu que sim e completou a frase dizendo que era “especial”, que eu era cega.  Alguns estudantes, se esforçavam para me olharem por trás da parede de uma janela de vidro que separa o local em que estava sentada de onde eles estavam.

– Essa é a professora de arte? E ela é cega?

– Tem certeza?  Como será a aula dela?

A curiosidade a meu respeito em alguns minutos se espalhou pela escola, tornei-me, o assunto do momento. Todos, principalmente, os profissionais da escola me perguntavam sobre minhas aulas, como faço avaliação? Como faço chamada? Etc. Algumas curiosidades, eram extremamente preconceituosas e muitas têm frases como “desculpe é que nunca conheci ninguém assim”… a situação mais terrível que vivencio é quando alguém fala comigo me infantilizando… juro para você, que se pudesse daria um tabefe bem no meio do nariz dessas pessoas, mas, lembro que não podemos fazer tudo o que temos vontade porque, podemos ter sérias consequências.

O fato de eu ser uma professora de Arte cega, desde que fui contratada pelo estado, tenho vivenciado situações em que sou colocada como um tipo de aberração, uma espécie de novidade a ser contemplada e temida, minhas capacidades profissionais e intelectuais foram posta em dúvida, todos queriam saber sobre minha formação acadêmica e se eu tinha experiência de trabalho, por outro lado, me identificaram como uma espécie de ser, que merecia ser admirada e compreendida como um exemplo de superação. _’

Educação escolar de surdocegos no Brasil

A Educação Surdocegos nasceu nos EUA. No Brasil a educação escolar de pessoas surdocegas teve início na década de 1960, após a ativista social surdocega Helen Keller vir ao Brasil. Keller, considerada nos tempos atuais a mais surpreendente Surdacega de todos os tempos. Sua visita motivou a educadora Nice Tonhozi Saraiva, que trabalhava no processo de escolarização de pessoas cegas no Instituto de Cegos Padre Cícero em São Paulo a trabalhar na educação escolar de surdocegos a partir de 1992.

Foi Nice saraiva que fundou o primeiro centro educacional para pessoas surdocegas no Brasil a SEADAV – Serviço de Atendimento ao Deficiente Audiovisual.

Saraiva, já trabalhando na Educação de cegos no Instituto de Cegos “Padre Chico” em São Paulo dedicou-se também a Educação de Surdocegos a partir de 1962 quando tão logo voltou dos EUA.

Em 1963, por intervenção do estado a SEADAV foi transferida de São Paulo para São Bernardo do Campo.

Em 1968, a SEADAV passou a se chamar ERDAV – Escola Residencial para Deficientes Audiovisuais.

Em 1977, para garantir maior autonomia da escola, foi novamente alterada e passa a ser chamada de FUMAS – Fundação Municipal Anne Sullivan, que ficou sendo a mantenedora da Escola de Educação Especial Anne Sullivan, que funciona até os dias de hoje.

No entanto, a educação escolar de surdocegos no Brasil só passou a ser impulsionada na década de 1990, devido o apoio de instituições estrangeiras, como a Sense Internacional Latino América e a Perkins School, pela promoção de cursos de capacitação na área de surdocegueira, promoção de eventos e produção de impressos informativos.

De acordo com Farias (2015) pesquisas sobre Surdocegueira e educação escolar de surdocegos no Brasil estão dando seus primeiros passos, iniciados no limiar do século XXI, a partir da publicação pelo Ministério de Educação do “Programa de Capacitação de Recursos Humanos do Ensino Fundamental: Deficiência Múltipla” pela Secretaria de Educação Especial em 2000.

A entrada no século XXI é demarcada pelo compromisso ético e político de garantir a universalização da educação básica e a qualidade da educação e de promover o respeito à diversidade humana. De forma transversal a estes aspectos, e como condição para universalizar a educação básica, emerge o debate sobre a organização e a função da Educação Inclusiva como uma ação política, cultural, social e pedagógica, desencadeada em defesa do direito de todos os alunos de estarem juntos, aprendendo e participando, sem nenhum tipo de discriminação. A educação inclusiva constitui um paradigma educacional fundamentado na concepção de direitos humanos, que conjuga igualdade e diferença como valores indissociáveis, e que avança em relação à ideia de equidade formal ao contextualizar as circunstâncias históricas da produção da exclusão dentro e fora da escola.

Nesse contexto foi criada as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, aprovada em 03 de julho de 2001. O art. 8º, VIII, que destaca a flexibilidade temporal do ano letivo, assim determinando: 

Temporalidade flexível do ano letivo para atender as necessidades educacionais especiais de alunos com deficiência mental ou com graves deficiências múltiplas, de forma que possam concluir em tempo maior o currículo previsto para a série/etapa escolar, principalmente nos anos finais do ensino fundamental, conforme estabelecido por normas dos sistemas de ensino, procurando-se evitar grandes defasagens idade/série.

Esta diretriz tem como fundamentação legal a Constituição de 1988, a Lei 10.172/01 – Plano Nacional de Educação, Lei de Integração 7.853/89, Lei 8.069/90 – ECA, Lei 9.394/96 – LDBEN, Portaria/MEC 1.679/99 – Educação superior e a Declaração de Salamanca de 1994. A declaração de Salamanca de 1994 é o documento que mais destaca surdocegueira e os surdocegos em seu artigo 21 destaca às Políticas educacionais de surdos e de Surdocegos.

O art. 10 das Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica destaca que: 

Os alunos que apresentam necessidades educacionais especiais e requeiram atenção individualizada nas atividades da vida autônoma e social, ajudas e apoios intensos e contínuos, bem como adaptações curriculares tão significativas que a escola comum não consiga promover, podem ser atendidos, em caráter extraordinário, em escolas especiais, públicas ou privadas, atendimento esse complementado, sempre que necessário e de maneira articulada por serviços de saúde, trabalho e assistência social.

Assim, é garantido ao aluno surdocego uma educação escolar individualizada em que o trabalho é desenvolvido entre um professor para cada educando. Esse processo é praticamente impossível do ponto de vista prático-metodológico o contrário.  O art. 12, inciso 2º descreve que:

Deve-se assegurada, no processo educativo de alunos que apresentam dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais educandos, a acessibilidade aos conteúdos curriculares, mediante a utilização de linguagens e códigos aplicáveis, como o sistema braille e a língua de sinais, sem prejuízo do aprendizado da língua portuguesa, facultando-lhes e as suas famílias a opção pela abordagem pedagógica que julgarem adequada, ouvidos os profissionais especializados em cada caso.

Atualmente, existem algunas instituições empenhadas em promover a inclusão social de quem possui surdocegueira. Entre elas encontram-se: Associação Brasileira de Pais e Amigos dos Surdocegos e Múltiplos Deficientes Sensoriais (Abrapascem), Associação Brasileira de Surdocegueira (Abrasc), Associação para Deficientes da Áudio Visão (Adefav – dirigida pela primeira educadora de surdocegos no Brasil, Ana Maria de Barros Silva), Ahimsa – Associação Educacional para Múltipla Deficiência, Escola Anne Sullivan, Instituto Benjamin Constant, Centro de Treinamento e Reabilitação da Audição (Centrau) e Grupo Brasil de Apoio ao Surdocego e ao Múltiplo Deficiente Sensorial (congrega profissionais, instituições, pais e surdocegos), Centro de Integração Vítor Eduardo (Cive), entre outras.

No Maranhão não existe nenhum centro, instituto ou escola que seja específico para  a educação de surdocegos.

REFERÊNCIAS

Educadores discutem desafios da inclusão das pessoas surdocegas. Matéria do jornal Comércio, publicada em: 13 Novembro 2017 14:40:30. Disponível em:www.adjorisc.com.br/jornais/jornaldocomercio/educação/educadores-discutem-desafios-da-inclusão-das-pessoas-surdocegas-1.2000734. Acesso em: 18.05.2019. 10:h34.

GARCIA, Alex. Surdocegueira: empírica e científica. Disponível em: http://www.agapasm.com.br/surdocegueiraempiricaecientifica/Surdocegueira%20Empírica%20e%20Científica.pdf. Acesso em: 17.05.2019. 07h06.

Técnicas e recursos que podem ser utilizados no processo de escolarização de surdocegos

Este post tem como referência o livro Surdocegueira: empírica e científica de Alex Garcia

Braille, Língua de Sinais, alfabeto digital, língua de sinais adaptada, Braille tátil, escritas na mão, guia-intérprete compreendido como recurso comunicativo, são exemplos de recursos que podem ser utilizados no processo de escolarização de pessoas surdocegas.

A Surdocegueira possui um potencial poder retaliativo da estrutura e desenvolvimento humano. Estas características podem ser em parte transformadas, à medida que, a acessibilidade, em seus diversos campos de atuação for colocada em prática.

A Acessibilidade, enquanto mecanismos de atuação e promoção da pessoa surdocega, deve possibilitar o acesso a comunicabilidade, através de meios, respeitando e considerando suas dificuldades e características plurais e ao mesmo tempo, individuais.

O Direito à Comunicabilidade garante o direito a à Livre Expressão, que para pessoas surdocegas, é um direito constantemente negado.

Algumas sugestões para a comunicação na educação escolar de surdocegos:

Manter a luz na direção de quem fala;

 Manter-se na linha de visão;

 Não se mover muito, e ao usar gestos, manter as mãos à altura do rosto se ainda faz LOF e ao nível do peito se não o faz;

Separe com cuidado as palavras, tente evitar as letras em script, pois é difícil para a pessoa com US ler o contorno das letras;

Usar um “pontador” para direcionar os olhos do estudante;

Manter os sinais dentro do campo de visão do aluno;

Manter o mínimo de alfabeto manual;

Usar sinais falando normalmente; – manter claros os sinais e sentenças;

Mantenha uma distância confortável 4 a 5 pés é razoável;

 Busque conhecer e desenvolver formas aumentativas de comunicação, como o alfabeto manual dactilológico, a escrita na mão international Standard Manual Alphabet;

Princípios norteadores da educação escolar de surdocegos

a) Atitude do Educador b) Ambiente de Educação/aprendizagem c) Relações com o Surdocego

Comportamentos comuns de crianças Surdocegas na escola

Demonstração de que não deseja interagir com nada;

Ela pode não ser capaz de olhar e sorrir a outros. Poderá ser complexo no início dizer se a criança é ou está feliz ou não;

As interações terão que incluir mais abraços e movimentos;

A criança surdocega pode não alcançar as destrezas e habilidades motoras para sentar, parar, rolar e caminhar na mesma idade que uma criança que não é surdocega;

A criança pode parecer assustada de se mover fora de seu espaço corporal;

A criança poderá ficar sempre ou muito tempo de cabeça abaixada, podendo tocar os olhos de forma constante ou mover suas mãos e dedos para obter estimulação;

Em um primeiro momento a criança pode não querer ser tocada ou tocar as pessoas e os objetos;

Poderá, com frequência, ter as noites e os dias confundidos;

 Pode não querer usar aparelhos de audição e/ou óculos;

Pode nunca aprender a falar (dependendo do grau de sua perda auditiva), porém pode aprender a se comunicar de alguma maneira. Tão somente será uma maneira diferente da fala;

A criança poderá comunicar-se tendo como forma condutas inapropriadas e/ou inadequadas;

Se você gostou desse post compartilhe nas suas redes sociais e contribua para uma educação escolar mais inclusiva em nosso país!

Ué se o governo cortou verbas das instituições de ensino federais para investir na educação básica, porque cortou verbas da educação básica?

O ministro da educação Abraham Weintraub falou esta semana durante uma audiência na Comissão de Educação no Senado que o foco do governo Bolsonaro será a educação básica, uma educação técnica, baseada em entrega de resultados e reconhecimento por mérito.

Como o governo vai centrar seu foco na educação básica se o MEC bloqueou R$ 914 milhões em políticas específicas para seu desenvolvimento. Somente do programa de apoio à infraestrutura de escolas do ensino básico, foram congelados R$ 273,3 milhões, cerca de 30% do total destinado, as creches e pré-escolas tiveram cortes de R$ 15 milhões. A alfabetização de jovens e adultos tiveram cortes de R$ 14 milhões dos R$ 34 milhões previstos no orçamento e a educação profissionalizante tão defendida pelo governo sofreu cortes de 25% do total de R$ 40 milhões. Os institutos federais sofreram cortes de R$ 860,4 milhões dos cerca de R$ 2,6 bilhões de orçamento discricionário? Esses valores foram levantados pela Consultoria de Orçamento da Câmara dos Deputados e estão disponíveis no site da câmara e do senado federal.

Esses dados mostram que a justificativa que o ministro da educação utiliza para defender os cortes nas instituições de ensino federais são falsas.

Recentemente, o MEC bloqueou 30% do orçamento da UFBA, UFF e da UNB, os motivos apresentados pelo ministro da educação foi que essas universidades utilizavam as verbas para balbúrdia. Após, críticas, o MEC alterou a medida bloqueando 30% das verbas em todas as instituições de ensino federais e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que financia programas de pós-graduação, perdeu R$ 819,3 milhões do total de R$ 4,1 bilhões da verba.

Portanto, o principal motivo para o corte de verbas é o caráter político-ideológico do atual governo, que é avesso a todo e qualquer princípio democrático. Esse caráter, antidemocrático, discriminatório e excludente constituí as principais metas do governo Bolsonaro, no que se refere a educação, como por exemplo, Gestão técnica orientada à entrega de resultados, Construção de um sistema educacional nacional orientado pelo mérito e para o mérito, Fixação de incentivos para a adoção das melhores práticas nacionais e internacionais em gestão da educação, Disciplina, ordem, respeito a todos no espaço da educação público e privados, Investimento em capital humano para aumentar a competitividade da economia brasileira.

Vale lembra que, o Fies e o Prouni, programas nacionais de educação que constitui a política de expansão do ensino superior, proporcionaram a milhares de pessoas que historicamente sempre estiveram em condições de desigualdades sociais e econômicas, a oportunidade de concluírem um curso superior e com isso, conseguirem melhores empregos, realizarem pesquisas, participarem de forma plena na sociedade, contribuindo para a redução das desigualdades.

As diretrizes da educação brasileira apresentada pelo governo terão princípios autoritários nunca visto no país. Será proibido pensar e agir democraticamente e uma educação em poucas pessoas terão acesso.

Fonte: ANDES – UFC

O QUE A REFORMA DA PREVIDÊNCIA TEM A VER COM OS CORTES NA EDUCAÇÃO?

No dia 07 deste mês o ministro da educação Abraham Weintraub afirmou durante uma audiência na Comissão de Educação no Senado que não haverá corte no orçamento das universidades e instituições de ensino federais, mas, sim um contingenciamento e assim, que for aprovada a reforma da previdência e a economia do  país voltar a crescer o recurso para a educação voltará.

A afirmação do ministro reforça as pressões  e ameaças do governo em convencer os brasileiros sobre a necessidade da reforma da previdência. Sendo que, a justificativa de que existe um déficit da previdência é contestada a muito tempo pela Associação Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal, advogados previdenciários, pesquisadores e pelo relatório do senado que afirma não existir um déficit na previdência. Esse relatório afirma que, o que há de fato é um superávit e grandes devedores que não são cobrados pela Procuradoria da Fazenda Nacional. Leia o relatório do senado completo no link abaixo.

http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/539169/Relatório%20Final_CPIPREV.pdf?sequence=1

Não é de hoje que há inúmeras pesquisas que mostram que a reforma da previdência defendida pelo governo, beneficia somente banqueiros, empresários e ruralistas, que além de terem dívidas gigantescas perdoadas são os principais agentes responsáveis pelo aumento da desigualdade social no país.

Os defensores da reforma da previdência e apoiadores do governo Bolsonaro atacam a educação pública, principalmente, universidades e institutos federais, porque a educação é a principal ferramenta contra o autoritarismo, a intolerância e a favor da democracia e ao combate às desigualdades sociais.

Uma sociedade que tem acesso à educação é uma sociedade crítica, contestadora e defensora dos direitos sociais, da tolerância, da paz e preocupada em combater as desigualdades. É uma sociedade que dialoga, produz e divulga conhecimento. São essas as características que o atual governo quer impedir que a sociedade brasileira alcance.

PARA QUÊ EDUCAÇÃO? O IMPORTANTE É TER UMA ARMA DE FOGO!

A educação gratuita é um direito que deve ser garantido a todas as pessoas, é uma das principais ferramentas para o combate da desigualdade social e uma das principais características de um governo verdadeiramente democrático.

A Declaração Universal dos direitos humanos em seu artigo 26 determina que o direito à educação deve se vincular a três objetivos específicos: (1) pleno desenvolvimento da personalidade humana e fortalecimento do respeito aos direitos do ser humano e às liberdades fundamentais; (2) promoção da compreensão, da tolerância e da amizade entre todas as nações e a todos os grupos raciais e religiosos; (3) incentivo às atividades da ONU para a manutenção da paz.

Portanto, a educação é um direito social inalienável. Desde que Bolsonaro assumiu a presidência do Brasil a educação tem sido um dos principais alvos de desmonte, recursos financeiros congelados, universidades, docentes, discentes, pesquisadores (as), reitores e profissionais da educação e todas as pessoas que defendem uma educação democrática, crítica, igualitária e para todos têm sidos perseguidos e ameaçados.

A atual gestão, foi construída a partir de um discurso de ódio, intolerância e discriminação, semelhante aos que Alexandr Pavlov, um dos idealizadores da Declaração Universal dos Direitos Humanos afirmou ser um dos principais fatores para o desenvolvimento do fascismo e do nazismo.

As ações do atual governo são todas voltadas para a destruição de direitos sociais básicos como a saúde, a educação e o direito à terra. Por outro lado, o governo, cria medidas que garantam a posse de armas inclusive para menores de idade.

Vale lembrar que, o Brasil é um dos países do mundo mais violento para as mulheres, povo negro, indígenas, ativistas ambientais, trabalhadores rurais, quilombolas, população LGBT, etc. Os militares do Brasil, são os que mais matam no mundo segundo pesquisas da OAB (2019). O Brasil é o país do mundo que mais mata com armas de fogo segundo pesquisas da Associação Americana de Medicina (2019).

Portanto, a política do atual governo brasileiro, quer garantir que todo brasileiro não tenha acesso à educação, não pense criticamente, não participe de tomadas de decisões, que seja, ignorante, intolerante, mas, que tenham até quatro ARMAS de FOGO.

Assim, o objetivo principal dessa política é garantir que a população dê continuidade à política de dizimação social que está sendo posta em prática, essencialmente, pelos militares, desde que Bolsonaro assumiu a presidência.

Fonte: Portal – CTB

SOU UNIVERSIDADE PÚBLICA: MINHA HISTÓRIA

Pessoas como eu, que são chamadas de minorias sociais, por estarem em condições de desigualdade com uma parcela da sociedade, é provável, que nunca conseguissem concluir um curso de graduação e pós-graduação se não existisse universidade públicas e os programas de permanência na universidade criados pelo governo federal.

Nasci, num povoado de Maranhãozinho, um lugar de difícil acesso, não havia posto médico e existia apenas uma escola multiseriada, onde estudavam crianças, jovens e adultos, todos na mesma sala, meus pais eram lavradores, em razão da minha deficiência, eu quase nunca saía de casa, e, para passar o tempo, meus pais e meus familiares me davam livros, muitos, já estavam envelhecidos e frágeis,  na minha casa não tinha televisão e nem uma radiola, a única diversão que eu tinha era ler esses livros com uma lupa, que também, já estava muito gasta devido ao tempo de uso. Outras vezes, meus familiares faziam leituras para mim, com o tempo aprendi a escrever, mesmo sem poder enxergar bem, aprendi a desenhar e a recitar poesias.

O sonho do meu pai era um dia me ver na universidade, apesar, de saber que minhas chances seriam poucas, afinal, além da nossa situação econômica ruim e da distância do lugar que nós morávamos eu não enxergava.

O sonho dos meus pais, minha esperança e fé de viver dias melhores e muito, mais muito estudo, consegui ingressar na Universidade Federal do Maranhão, devido minha situação econômica, só pude concluir o curso de graduação que escolhi, porque recebi bolsas.

Na graduação morei na casa de estudante da UFMA, não paguei aluguel, água, luz e gás de cozinha. Ganhei bolsa alimentação (refeições gratuitas no RU). Fui bolsista estagiária no Campus. Fui bolsista em grupo de pesquisa. Quando terminei a graduação, ingressei na Pós-Graduação, fui bolsista da Capes. Desenvolvi pesquisas, participei de eventos e como parte do meu compromisso social, engajei-me em lutas sociais.

Na universidade aprendi a pensar e agir como um ser humano crítico e consciente, pautado no respeito a diversidade e pluralidade de ideias, condições e princípios. Conheci e assume, meu lugar no mundo com uma responsabilidade social e humana.

MULHER CEGA NAS ARTES

Em 2012, tornei-me a primeira mulher com deficiência visual a concluir um curso de Artes Plásticas na Universidade Federal do Maranhão – UFMA. Esse curso mudou de nomenclatura e atualmente é Artes Visuais. Quando ingressei tinha baixa visão, não conseguia controlar a pressão dos olhos e sofria com crises constantes de inflamação e catarata. Estava perdendo visão gradativamente.

Imaginem uma pessoa com deficiência visual numa aula de “desenho com modelo vivo”. Podem imaginar?… No início das aulas professores e colegas de turma me falavam porque você não foi fazer outro curso, talvez letras, história… talvez, você tenha dom para escrever… etc. Às vezes, eu fingia que não ouvia, para não ter que responder e ser chamada de ignorante. Ter inimigos na turma, sem dúvida, pioraria minha situação, que já não era muito boa, naquele momento.

Em nenhum momento no curso tive acessibilidade, fui reprovada numa disciplina de escultura, por não conseguir trabalhar com réguas e compassos, quase reprovei numa disciplina de pintura, por não conseguir diferenciar cores e não colocar o ponto de fuga de modo perfeito durante uma prova. Com tudo isso, nunca consegui compreender porque na universidade havia tantos obstáculos quando uma pessoa com deficiência visual só queria estudar artes visuais. Viver, sentir e produzir arte, sempre foi algo simples, prazeroso e natural para mim.

 Fui alfabetizada através da Arte, por meio da xilogravura foi que eu conheci as letras do alfabeto, aprendi a ler declamando poesias e fazendo encenações, aprendi escrever desenhando na terra, aprendi a contar através de música e versus, conheci o mundo por meio de desenhos, pinturas e descrições de lugares e coisas em livros de poesias e histórias, aprendi notas musicais através de uma sanfona e triângulo, nas vésperas do meu avô fazer apresentações em barracões de forró, lá na roça que nós morávamos.

Para vencer situações de exclusão que vivenciava, decidi “FALAR” que não enxergava e precisava de ajuda, para todos os professores e professoras e colegas de turma e par quem se aproximasse de mim.  Foi nesse período, que DESCOBRI QUE FALAR É UM ATO LIBERTADOR. Com isso, consegui algum@s apoiadores (professores e colegas de turma) que me auxiliavam em momentos esporádicos. Procurei fazer amizades com pessoas que trabalhavam na limpeza no prédio que eu estudava, passei a pedir ajuda para elas, no caminho até a sala de aula e para andar na universidade.

Dediquei-me a produzir desenhos expressivos, coloridos e contrastantes. No quinto período fiz minha primeira exposição no hall  do Centro de Ciências Humanas – CCH na UFMA. O CCH, é um lugar que respira arte e cultura e onde se reúnem os maiores intelectuais da universidade.  No CCH e no Centro histórico de São Luís, vendi pinturas, fiz performances, ministrei oficinas de desenho, pintura e xilogravura. Posso afirmar para vocês, que o vivi a energia desses espaços intensivamente!

Quando fiquei cega total, continuei pintando e dediquei-me ao teatro. Atualmente sou a primeira atriz cega do Maranhão, estou com espetáculo em cartaz, no qual sou a protagonista na peça “PELOS OLHOS DELA!”.

Além da minha vida nas Artes, tenho muitas outras vidas…. mas, isso, será assunto para o próximo post!

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EU vestida com a beca da minha formatura em Artes Visuais ao lado do meu esposo – Wagner
EU ao lado de Dani- amiga e companheira de moradia na Casa feminina de Estudante na UFMA
Eu e Talitinha amiga e companheira de moradia na casa de estudante feminina da UFMA
Família, marido, primo, tia e primas no dia da minha colação de grau na UFMA